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Discurso de Dom Jeová Elias na Sessão Solene na Câmara Federal em homenagem à Procissão do Fogaréu

Exmos. Srs. e Sras. Parlamentares,

Autoridades civis e eclesiásticas,

Prezados membros da OVAT,

Queridos diocesanos aqui representados,

Amados irmãos e irmãs presentes,

É com imensa gratidão e alegria pastoral que acolho, em nome da Diocese de Goiás e de nosso querido povo vilaboense, esta significativa homenagem à “Procissão do Fogaréu”, uma das expressivas tradições religiosas e culturais do nosso país, manifestação da piedade do nosso povo. Nas ruas seculares de Goiás, cultura e religião andam de mãos dadas. Se a cultura é a alma de um povo, a religião é a alma de uma cultura. Nesta sessão solene, recordamos não apenas um patrimônio histórico e cultural, mas também sua importância litúrgica e espiritual, que atrai milhares de fiéis à cidade de Goiás, tocando os seus corações para acolherem a mensagem de Jesus perseguido, preso, condenado à morte de cruz, mas gloriosamente ressuscitado.

A procissão do Fogaréu, realizada de quarta para quinta-Feira santa na cidade de Goiás, revive os últimos passos de Jesus até sua prisão pelos soldados romanos, que saíram com tochas na escuridão da noite para prender o inocente no Horto das Oliveiras. Representando esses soldados, os farricocos – homens encapuzados e descalços – à meia noite, percorrem apressadamente as ruas de pedras, iluminando com tochas a escuridão do centro histórico de Goiás. Eles simbolizam não apenas a busca para prender Jesus, mas também a humanidade que anseia pela luz. Seus rostos ocultos representam o homem pecador fugindo de Deus, escondendo-se por causa de seu pecado (cf. Gn 3,10), caminhando nas trevas em busca da verdadeira luz.

A escuridão que envolve as ruas do centro histórico de Goiás simboliza as trevas que precediam a criação divina (cf. Gn 1,2), até que Deus disse: “Haja luz!” (Gn 1,3), e a tentativa de retornar ao caos, de apagar a luz do mundo (cf. Jo 8,12). Ela evoca a noite da traição de Judas (cf. Jo 13,30), a negação de Pedro junto à fogueira (cf. 22,54-62) e a agonia de Jesus no Horto das Oliveiras, enfrentando a “hora do poder das trevas” (cf. Lc 22,39-53). Sobretudo, remete à grande escuridão que cobriu a terra do meio-dia às três horas da tarde, quando o sol parou de brilhar e Jesus, com um forte grito, entregou seu espírito ao Pai (cf. Lc 22,44-46). Porém, as trevas não venceram a luz de Jesus (cf. Jo 1,5) e não nos vencerão. Ele ressuscitou, a pedra foi removida da sua sepultura. Ele é a luz do mundo (cf. Jo 8,12).

Apesar da beleza plástica que encanta com o colorido dos farricocos, as luzes, a fumaça das tochas e o ritmo dos tambores, a procissão não é um espetáculo folclórico, mas expressão viva da nossa fé no Mistério Pascal de Jesus. Ao seguirmos os farricocos, vamos refletindo sobre o lugar que ocupamos nesta caminhada de fé. Seríamos como Judas, que traiu Jesus? Ou como Pedro, que o negou? Ou nos identificamos com o próprio Jesus, perseguido e morto por causa da sua mensagem em favor da vida plena para todos?

A procissão do Fogaréu não é só memória do passado, mas chamado a iluminar o presente com a luz da fé. Um momento importante, muitas vezes ignorado pela mídia, mas acompanhado com atenção pelo povo, é o “Sermão do Bispo”, no pátio da igreja São Vicente de Paulo, que simboliza o Horto das Oliveiras, local da prisão de Jesus. Ali, a cada ano, a temática da Campanha da Fraternidade ecoa como apelo à conversão. Em 2025, com o tema “Fraternidade e Ecologia Integral” convidou-nos a ouvir o clamor da mãe terra e dos pobres.

Que esta casa Legislativa, ao homenagear o Fogaréu, seja iluminada pelo Espírito divino na promoção de leis que concretizem o desejo de Cristo, luz do mundo: “Que todos tenham vida, e vida em abundância! ” ( Jo 10,10).

Agradeço a todos que preservam essa bela tradição na cidade de Goiás, especialmente aos irmãos farricocos, aos músicos, às famílias vilaboenses e aos parlamentares – em particular ao deputado Zacharias Calil – por esta significativa homenagem. Que a Procissão do Fogaréu continue a ser, como afirmou o poeta Vilmar Guimarães, “Um rito que une céu e terra”. Concluo com as palavras de Jesus, no Evangelho de João: “Eu sou a luz do mundo. Quem me segue não andará nas trevas, mas terá a luz da vida” (Jo 8,12).

Brasília, 14 de maio de 2025

 

+ Jeová Elias Ferreira

Bispo diocesano de Goiás

 


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