A obediência ao Evangelho foi, desde Jesus até os dias de hoje, causa de insulto e perseguição. Não é por nada que os evangelistas insistiram em afirmar que os perseguidos por causa da justiça são bem-aventurados (Mt 5,10), ou que a prova maior do amor é dar a vida pelos amigos (Jo 15,13), ou ainda, que não devemos temer aos que matam o corpo (Mt 10,28). No fundo, trata-se do mistério da vida de Jesus: um pobre de nascença, migrante, artesão… que de repente organiza em torno de si um grupo que anuncia um novo Reino contrapondo-se aos reinos impostos. O resultado foi a cruz.
Nativo da Natividade foi lavrador, presidente do sindicato dos trabalhadores rurais de Carmo do Rio Verde, secretário rural da Central Única dos Trabalhadores (CUT), militante do Partido dos Trabalhadores (PT) e membro das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs). Por promover trabalhos de conscientização política que ajudavam os camponeses a enxergar a opressão e a exploração dos grandes proprietários de terra, foi demitido de vários empregos, vigiado pelos órgãos da repressão e preso. Não demostrando medo frente às ameaças, foi assassinado com cinco tiros, na porta do sindicato, em 23 de outubro de 1985.
Francisco Cavazzuti é padre, missionário enviado pela diocese de Carpi, na Itália. Filho de camponeses, chegando ao Brasil identificou logo como os trabalhadores rurais eram explorados. Comprometido com a justiça e a defesa dos direitos humanos, colocou-se do lado dos pequenos. Foi baleado após a novena à beira da rodovia que liga Mossâmedes à Cidade de Goiás. Era 27 de agosto de 1987. A bala não o matou, mas roubou-lhe a visão. Cego, “Chicão” jamais declinou da profecia que denuncia a opressão e anuncia a libertação.
O martírio não é causa de alegria. Mas, a força do testemunho sem medo, anima e fortalece a caminhada como o sopro do Espírito. Ele é a prova de que a cruz jamais terá a última palavra. No primeiro dia da semana Jesus estava ressuscitado. O sangue de Nativo e a cegueira de Chicão nos colocam em pé de igualdade com a marcha dos discípulos e discípulas fieis de Jesus. Se estamos aqui, vivos e na luta, é por causa de tanto testemunho que, desde Jesus até agora, não deixou cair no esquecimento que a vida é maior que a morte. E ainda, que todo aquele que doar a sua vida por causa do Evangelho, este sim, encontrará a vida plena e definitiva (Mt 16,25).