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Maria, a virgem que sabe ouvir

Por: Pe. Mauro Francisco dos Santos

“Feliz aquela que acreditou” (cf. Lc 1,45; CIC 148-149.273) eis o grande referencial para que os crentes de todos os tempos possam chegar às bem-aventuranças do Reino anunciado por Cristo. Maria foi feliz não somente por ter sido a Mãe de Jesus e sim por ter acreditado e gerado em seu coração a grande espera messiânica de seu povo e depois tê-lo gerado em seu ventre, dando a todos o enviado de Deus.

Todos os documentos, encíclicas expostos no nosso texto anterior tem como atitude central a fé de Maria. Enquanto Jesus é a Palavra encarnada e fala a partir da profundidade do seu ser “um” com o Pai, a natureza e o caminho de Maria, por seu lado, são determinados decisivamente pelo fato de ela ser crente. Por isso a Igreja nos chama para imitá-la em nosso seguimento a Jesus Cristo.

Toda criatura humana não pode viver sem um modelo, para o qual possa olhar e que possa tomar como fundamento da sua vida. Toda religião tem os seus modelos. No cristianismo Deus é proposto explicitamente como modelo: “Deveis, portanto, ser perfeitos como o vosso Pai celeste é perfeito” (Mt 5,48). Todo cristão é chamado a ser modelo, realizando em si a sua vocação. E desde a origem da Igreja, Maria foi vista como uma mulher toda voltada para Deus.

As Sagradas Escrituras não apresentam elogios feitos a Maria, exceto as palavras do anjo e de Isabel e as da própria Maria na proclamação jubilosa das “grandes coisas” que nela fez o Deus santo e poderoso (Lc 1,46-55); não existem elogios, mas existe a realidade exemplar de Maria. Por isso, o culto a Maria terá como ponto de partida essas grandes coisas que Deus nela realizou, mas também a plenitude com que Maria correspondeu à missão a que Deus a chamou. O verdadeiro culto sempre esteve ligado à imitação dos seus feitos.

A Igreja em suas liturgias celebra particularmente o que Deus realizou e realiza no mistério pascal de Cristo e, celebrando, encontra a mãe associada intimamente ao Filho. Por sua vez, a Igreja, unida a Maria por muitos vínculos, com ela e como ela quer viver o mistério de Cristo (cf. MC 11), e assim experimenta sempre e continuamente sua presença como mãe e auxiliadora, principalmente na sagrada liturgia.

Hoje a missão da Igreja, contemplando a Santa Mãe de Deus, procura unido à sua voz, louvar a Deus e o glorifica com grata exaltação; junto com ela, deseja ouvir a Palavra de Deus e meditá-la assiduamente no coração; com ela, suspira por tornar-se participante do mistério pascal de Cristo; a ela, orante no cenáculo com os Apóstolos, procura imitar, implorando incessantemente o dom do Espírito Santo; a ela invoca para que interceda, sob a proteção dela se refugia, suplica a ela para que visite o povo fiel e o encha dos dons da graça; com ela, o proteger bondosa seus passos, vai confiante ao encontro de Cristo.

A força do exemplo da santíssima Virgem, que brilha na própria ação litúrgica, impele os fiéis a guardarem solicitamente a Palavra de Deus e a meditá-la com diligência; a respeitar a lei de Deus e a abraçar sua vontade; em tudo e acima de tudo amar a Deus; e vigilantes ir ao encontro do Senhor – pois como nos recorda alguns dos santos padres “antes mesmo que Maria gerasse Jesus em seu ventre já o havia gerado no coração – como imagem do ‘antigo’ Povo de Deus” (cf. CIC 489) – por seu “fiat” ela tornou-se a nova Eva, Mãe de todos os viventes.

O Diretório sobre a piedade popular e liturgia nos diz no número 193 que “os fiéis devem, nas práticas de piedade, ouvir com fé a Palavra, acolhê-la com amor e guardá-la no coração; meditá-la na alma e difundi-la com os lábios; colocá-la fielmente em prática e conformar toda a vida a ela, conforme fazem nas celebrações litúrgicas” – tudo isso, ou todas essas atitudes são espelhadas na Santíssima Mãe de Jesus.

O que a fé católica crê acerca de Maria funda-se no que ela crê acerca de Cristo, mas o que a fé ensina sobre Maria ilumina, por sua vez, a sua fé em Cristo. Por isso se a devoção à Mulher que soube ouvir a voz de Deus for bem vivida não terá mais lugar para uma piedade egoísta, sentimental, infantil, que exclua o compromisso e a coerência de vida. Mas tudo será vivido santamente conforme ela foi e será até a volta do Cristo.


Pe. Mauro Francisco dos Santos
Mestre em Liturgia pelo Instituto Litúrgico Santo Anselmo – Roma
Doutorando em Teologia pela PUC-RJ.
Atua como presbítero da Diocese de Goiás.
Professor no Instituto de Teologia Santa Cruz em Goiânia – GO.

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