Por: Pe. Mauro Francisco dos Santos
Todo cristão é chamado a ser modelo, realizando em si a sua vocação. Por isso mesmo que a intenção de todo culto da Igreja voltado à Santíssima Virgem Maria e aos demais Santos é a imitação de suas virtudes. Somos chamados a contemplá-los para poder passar da devoção à imitação, do pedido de proteção ao compromisso pessoal para viver na própria vida a santidade deles – que deixaram ser totalmente tomados pela graça divina.
Com essa moldura podemos dizer que Maria é mãe da Igreja, mãe dos crentes, mãe da humanidade inteira, exercita a sua maternidade com o seu exemplo; como Maria, a Igreja deve tornar-se mãe dos crentes; como Maria a Igreja vive a sua virgindade, conservando “íntegra e pura na fé dada ao Esposo e, à imitação da mãe do seu Senhor, com a virtude do Espírito Santo, conserva virginalmente íntegra a fé, sólida a esperança, sincera a caridade” (cf. LG 64).
Maria é sim modelo, ícone da Igreja virgem e mãe, pela força do Espírito Santo, gera novamente Cristo nos fieis. Esse pensamento podemos encontrar no batistério da Basílica de Latrão em Roma: “Nessa fonte, a Igreja, nossa mãe, gera em seu ventre virginal os filhos que ela concebe pela força e potência do Espírito Santo”.
A maternidade espiritual de Maria com os discípulos de seu Filho e a sua constante presença em seu caminho de fé, esperança e caridade, pode ser explicado sobretudo nas ações sacramentais (cf. MC 9; OPCAM 5) – documentos citados nos textos anteriores.
Nos recordava em uma homilia natalina o Santo Padre Leão Magno: “A nascente da vida que (Cristo) tomou no seio da Virgem (Maria), colocou-a Ele nas fontes do batismo: deu à água aquilo que dera à Mãe; com efeito, a virtude do Altíssimo e a sombra do Espírito Santo (cf. Lc 1,35), que fizeram com que Maria desse à luz o Salvador, fazem também com que a água regenere aquele que crê” (Tractatus XXV [In Nativitate Domini], 5: S. Ch 22 bis, p. 132. cf. também Tractatus XXIX [Idem], 1: p. 178; Tractatus LXIII [De Passione Domini], 6: S. Ch 74, p. 82).
Um dado litúrgico muito importante da liturgia hispânica é apresentada na ‘illatio – ofertório’: “Aquela (Maria) trouxe no seu seio a Vida; esta (Igreja) trá-la na água batismal. Nos membros d’Aquela Cristo foi formado; nas águas desta Cristo foi revestido” (Liber Mozarabicus Sacramentorum, col. 56).
Não podemos deixar de citar uma alocução do São João Paulo II no Angelus do dia 12 de fevereiro de 1984; “a Bem-aventurada Virgem é íntima, quer a Cristo quer à Igreja, e inseparável de um e de outra. Ela, portanto, está a eles unida naquilo que constitui a essência mesma da liturgia: a celebração sacramental da salvação para glória de Deus e para a santificação do homem. Maria está presente no memorial — a ação litúrgica — porque esteve presente no evento salvífico. Está junto de cada fonte batismal, onde na fé e no Espírito nascem para a vida divina os membros do Corpo místico, porque lhe concebeu com a fé e com a energia do Espírito a divina Cabeça, Cristo; está o memorial da Paixão-Ressurreição, junto de cada altar, onde se celebra porque, aderindo com todo o seu ser ao desígnio do Pai, esteve presente no fato-salvífico da morte de Cristo; está junto de cada cenáculo, onde com a imposição das mãos e a santa unção é dado o Espírito aos fiéis, porque com Pedro e com os outros apóstolos, com a Igreja nascente, esteve presente na efusão pentecostal do Espírito”.
Em todas as celebrações litúrgicas marianas é importante estar evidente o com e o como Maria (pensemos no Cânon Romano, que reza: “Em comunhão com toda Igreja, recordamos e veneramos a sempre Virgem Maria, Mãe de nosso Deus e Senhor Jesus Cristo…”, pois torna-se para nós crentes no Evangelho uma verdadeira fonte de espiritualidade baseada na própria Palavra de Deus, na Tradição e no Magistério da Igreja – fontes seguras e amadurecidas.
Que a Igreja possa, ao recorrer à Santíssima Mãe de Jesus em oração nesse mês de maio, lembrar da necessidade de prosseguir confiantes o nosso caminho de compromisso cristão aonde a Providência nos guiar. Continuemos, sob a guia de Maria, mãe da Igreja.