Por: Pe. Mauro Francisco dos Santos
Durante o mês de maio comumente fazemos uma digna memória da Santa Mãe do Senhor. Muito se tem falado e até mesmo valorizado esta mulher bíblica, eclesial como também exemplar a todos os crentes. Por isso no decorrer deste mês queremos oferecer alguns aspectos teológicos/espirituais importantes para o nosso sadio culto àquela que depois de Cristo merece todos os louvores da Igreja (cf. LG 54).
Maria, como nos recorda o Papa Paulo VI na exortação apostólica Marialis Cultus no número 16, é modelo para toda Igreja, pois ela nos apresenta algumas atitudes/virtudes que os cristãos de hoje são convidados a imitá-la para bem seguir os passos de seu amado Filho. Vamos nessas próximas semanas discorrer sobre essa exemplaridade espiritual, a saber: Mulher que Escuta (n. 17), Mulher que Ora (n. 18), Mulher Mãe (n. 19) e finalmente Mulher Oferente (n.20).
É importante que coloquemos, ao olhar para a Santa Mãe de Deus, critérios para falar dela de modo justo. Primeiro devemos sempre partir da própria Palavra de Deus, passar pela Tradição/Patrística e finalmente chegar à Sagrada Liturgia/Magistério. São pontos fundamentais para que possamos de modo singular elevar essa que foi elevada pelo próprio Criador.
Veremos com isso que celebrar Maria não é um ato opcional, mas é um fato litúrgico singular, porque ela está no coração da liturgia. A memória dela não está nas margens da liturgia, mas faz parte de sua estrutura (tipológica). Aliás, existe um único ciclo anual cristão, aquele cristológico – e fazendo esse percurso espiritual que chamamos de Ano Litúrgico, nele encontramos Maria – indissolúvel (inseparável), modelo excelentíssimo da Igreja.
Nos diz a Constituição Conciliar sobre a Liturgia no número 103 que quem venera com especial amor a Mãe de Deus – vínculo indissolúvel com Cristo – contempla em Maria como num espelho aquilo que a Igreja deseja e espera ser. Um outro documento do mesmo concílio, a Lumen Gentium recorda no número 66 que quem honra a Mãe, honra também o Filho.
Sabemos que o sensus fidei precedeu a instituição do culto litúrgico na Igreja. Antes mesmo de a Igreja inseri-la oficialmente no culto, Maria já era vista como uma testemunha privilegiada e ao mesmo tempo protagonista da economia da Salvação.
Além dos indícios escriturísticos (Mt 1-2; Lc 1,2; Jo 2,1; Ap 12 entre outros) temos outras testemunhas históricas da presença de Maria na liturgia. Ela aparece mesmo que de modo velado numa homilia pascal de Melitone de Arles (+ 160-170). Nessa citada homilia Maria aparece 4 vezes como a virgem, a cordeira e na encarnação.
Na iconografia, a primeira testemunha dessa mulher está guardada na Catacumba de Priscila em Roma onde Maria aparece amamentando o Jesus menino (figura datada do século II). Temos também no ambiente litúrgico popular um papiro Egipciano do século III em Alexandria contendo um hino chamado Sub Tuum Praesidium (sob tua proteção) que invoca a proteção da Mãe de Jesus e já aparece Maria com o título de Mãe de Deus. No mesmo século temos outra importante testemunha que é a Tradição Apostólica de Hipólito de Roma que apresenta Maria em dois momentos: no Credo Apostólico e na Anáfora Eucarística, ambos como embrião daquilo que posteriormente a Igreja foi amadurecendo em sua fé. E por aí no decorrer dos séculos os cristãos foram percebendo o lugar de Maria na liturgia e na vida da Igreja em oração.
Na próxima semana queremos então apresentar uma primeira característica da Mãe de Jesus – como a Mulher que escuta (Obediente à Palavra) – por isso pedimos que nesses dias leia o número 16 do documento mencionado. Uma outra leitura importante é o capítulo 8 do documento conciliar sobre a Igreja Lumen Gentium. Boa leitura e oração.
Pe. Mauro Francisco dos Santos
Mestre em Liturgia pelo Instituto Litúrgico Santo Anselmo – Roma
Doutorando em Teologia pela PUC-RJ.
Atua como presbítero da Diocese de Goiás.
Professor no Instituto de Teologia Santa Cruz em Goiânia – GO.