InícioNotíciasIgreja no BrasilQuebrando estereótipos: conheça as 10 'mentiras' mais contadas sobre os indígenas

Quebrando estereótipos: conheça as 10 ‘mentiras’ mais contadas sobre os indígenas

Lilian Brandt, antropóloga e colaboradora da Articulação Xingu Araguaia (AXA) fez um levantamento importante para se entender os estereótipos que ainda envolvem a imagens dos indígenas no Brasil. Ela denomina de “As 10 mentiras mais contadas sobre os indígenas”. Segundo a especialista, as afirmações listadas foram extraídas da vida real. “Algumas nas ruas do interior do Brasil, outras nas cidades grandes, outras em discursos de políticos. Percepções diversas, vindas de pessoas com histórias diferentes, mas com um direcionamento em comum: a disseminação do discurso anti-indígena”.

A “mentira” nº 1: é que quase não existe mais índio, daqui alguns anos não existirá mais nenhum. “Se as pessoas não sabem muito sobre os indígenas na atualidade, sabem menos ainda sobre o passado destes povos. Mesmo os pesquisadores não encontram um consenso, e os números variam muito conforme os critérios utilizados”, esclarece Lilian. A antropóloga e demógrafa Marta Maria Azevedo estima que, na época da chegada dos europeus, a população indígena no Brasil era de 3 milhões de pessoas. Eram mais de 1 mil povos diferentes, que durante séculos foram exterminados pelos conquistadores, seja por suas armas de fogo, seja pelas doenças que trouxeram. De acordo com antropóloga, em 1957 havia no Brasil apenas 70 mil indígenas. No entanto, o crescimento dessa população é observado a partir da década de 1980.

Em 1991, quando o IBGE [Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística] passou a coletar dados sobre a população indígena brasileira, eles somavam 294 mil pessoas. Em 2000, o Censo revelou um crescimento da população indígena muito acima da expectativa, passando para 734 mil pessoas. Em 2010, a população indígena continuou crescendo, e o Censo mostrou que mais de 817 mil brasileiros se autodeclararam indígenas, representando 0,47% da população brasileira. Eles estão distribuídos em 305 etnias e falam 274 línguas.

“Mentira” nº 2: os índios estão perdendo sua cultura. Para Lilian, esta afirmação resume uma série de outras ideias muito difundidas: “índio que usa celular não é mais índio”, e suas variáveis televisão, computador, calça jeans, tênis, rede de pesca, barco a motor, caminhonete, trator e etc. “De modo geral, cultura é o conjunto de manifestações que inclui o conhecimento, a arte, as crenças, a língua, a moral, os costumes, os comportamentos e todos os hábitos e aptidões adquiridos por pessoas que fazem parte de uma sociedade específica”. Portanto, nesse sentido, a incorporação de elementos de outra cultura é também uma estratégia de resistência. O uso de equipamentos de pesca dos “brancos”, por exemplo, pode ser um modo de resistência cultural, num entendimento de que pescar é mais importante para a identidade indígena do que se manter preso a técnicas tradicionais e não chegar com o peixe em casa.

A “Mentira” nº 3: é que estão inventando índios, agora, todo mundo pode ser índio. A antropóloga diz que, se a pessoa se reconhece como indígena e se identifica com um grupo de pessoas que também se reconhecem como indígenas e a consideram indígena, então ela é. Não existe nenhum reconhecimento da Funai [Fundação Nacional do Índio], nenhum julgamento de um não-indígena e nenhum critério imposto pela sociedade que possa ser maior do que o seu sentimento e o sentimento da coletividade a qual ela pertença.

 

Outra “mentira” importante, a nº 4: o Brasil é um país miscigenado, aqui não tem racismo. Lilian afirma que racismo, assim como machismo, é algo sutil. Às vezes ele aparece escancarado, quando um sujeito chama um negro de “macaco”, quando uma mulher é estuprada, quando se constata um salário menor para mulheres e negros do que para homens brancos para fazerem exatamente o mesmo trabalho. Esse racismo escancarado é muitas vezes (mas nem sempre) condenado pela sociedade. Mas nem tudo é preto no branco, racismo ou não-racismo. Há infinitas combinações de cores, há infinitas formas de demonstrar e de esconder o racismo e ainda assim julgar-se superior. “Com indígenas é pior, porque a diferença não está só na cor da pele, no tipo de cabelo e na classe social. Além de tudo isso, a diferença é cultural e muitas vezes até linguística. Os indígenas são os brasileiros mais ímpares e diferentes que compartilham o mesmo território que nós”, destaca.

A “mentira” nº 5: é que os índios têm muitos privilégios. “Se estivéssemos aqui falando de privilégios como desfrutar de uma vida em meio à natureza, estaria tudo bem. Mas não, infelizmente este discurso vem acompanhado da crença de que “índio recebe um salário do governo a partir do momento que nasce”. Na visão da antropóloga, pior do que ter tantas pessoas acreditando nisso, é a surpresa que expressam quando descobrem que não. “Não? Mas então, do que vivem?”. “Parece impossível acreditar que trabalham e que batalham pelo seu sustento. Ao contrário do que tantos brasileiros acreditam, não existe muita vantagem em ser indígena hoje em dia. Existe sim, muita coragem”.

A “mentira” nº 6: é que os índios são tutelados, por isso índio não vai preso e não pode comprar bebida alcoólica. Em seguida, a “mentira” nº 7 é: que tem muita terra para pouco índio. Em 1978, o Estatuto do Índio ordenou ao Estado brasileiro a demarcação de todas as terras indígenas até dezembro de 1978. Depois de 10 anos, a Constituição brasileira reconheceu aos índios os “direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens” (Art. 231), e estabeleceu o prazo de cinco anos para a demarcação de todas as Terras Indígenas. No entanto, até hoje, o Estado se recusa a cumprir sua obrigação e a cada dia crescem mais os interesses econômicos sobre estas terras tradicionais. Não bastasse isso, muitas Terras Indígenas são cada vez mais diretamente ou indiretamente afetadas por grandes empreendimentos, monoculturas com uso abusivo de agrotóxicos, mineradoras etc.

Outra “mentira”, a nº 8: é que os índios são preguiçosos e não gostam de trabalhar. Depois, a “mentira” nº 9: é a sociedade é mais avançada, não temos nada para aprender com os índios. E, finalizando o levantamento, a “mentira” nº 10: é que os índios atrasam o desenvolvimento do país.

 

Lilian afirma que o principal aspecto a ser considerado é que os grandes donos do poder econômico (os setores bancário, armamentista, minerário, farmacêutico, da construção civil, do agronegócio etc.) possuem interesse em divulgar uma imagem negativa dos indígenas. As grandes corporações tomaram conta da política e querem, a qualquer custo, convencer a nação de que “é preciso crescer e os índios atrasam o desenvolvimento do país”. “Na lógica deles é mais importante plantar soja para a China do que preservar as nascentes brasileiras”, enfatiza.

Veja o arquivo completo elaborado pela antropóloga Lilian Brandt.

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