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Compreendendo a mística da Pastoral do Migrante

Mística da Pastoral do Migrante

A pastoral do migrante trabalha com a mística do caminho e o povo. Na mística do caminho existem vários pontos de partida. A fronteira é um ponto comum a estes vários pontos de partida, e a acolhida destas pessoas que migram é uma das chaves da mística da pastoral. Mas este acolher é conflituoso, pois os migrantes são taxados de bagunceiros, intrusos, e a eles são imcumbidos o agravamento dos problemas sociais onde chegam e a equipe da pastoral do migrante deve estar disposta a comprar a sua briga, o conflito de sua defesa. Fazer o debate com a sociedade é um segundo ponto importante. Abrir horizontes para estas pessoas. As diferentes expressões da cultura, inclusive da fé também acentuam o conflito. Como as pessoas podem entender isto? As visitas aos migrantes é uma agenda. A questão do estudo da realidade deste contexto de migração é importante para se conseguir pensar ações que abram a esperança. As igrejas de origem e destino, uma consonância. Não podemos trabalhar com a idéia do migrante isolado, indivíduo. A migração é sempre envolvida em um contexto familiar, de pessoas que ficam no local de origem e que ajudam na definição de para onde ir e o que fazer no local de destino. A mística efetivamente missionária parte da escuta, mas não pode parar por aí,pois se cria expectativa, é preciso encaminhar, ações de transformação.

O direito de migrar mas também o direito de permanecer, na cidade de origem, na terra. Isso tem que também ser parte da reflexão da mística da pastoral.E as pessoas que não conseguem fazer a travessia? Que não conseguem chegar do outro lado?

Na mística do caminho a acolhida, o poço e prática.

O nosso trabalho deve ser canalizado no sentido de implodir as estruturas do capitalismo, e isto é um grande desafio, e se não fizermos isso os brotos irão aos poucos morrendo.

Estudar, formar equipes e estabelecer parcerias é fundamental para avançarmos em nosso trabalho.

O cuidado para nós, mesmo da pastoral, não absorver o discurso dominador. “Não fez o que deveria ter feito”, “Não pegava no eito direito”. São milhares de migrantes que não conseguem ser bem sucedidos em suas migrações, entre eles aqueles que super explorados em trabalhos degradantes tão cedo já não conseguem mais trabalhar e passam a viver em situação de penúria. Exemplos são jovens cortadores de cana que estão acamados com problemas sérios de saúde que os impedem de trabalhar.

O exercício da escuta nas visitas, isto ficou muito claro, a importância de se ouvir as pessoas. Os depoimentos de trabalhadores temporários que estão doentes e que não conseguem acessar a seguridade social, pois o médico que emite o laudo é da empresa. O desejo dos migrantes de conseguir comprar bens imóveis, construir patrimônio, isto é muito presente na fala deles. Sonhos. As condições de moradia de alguns migrantes em Itapuranga, casa pequena, muitos trabalhadores, condições desumanas. A estratégia da empresa de manter separados os migrantes de acordo com os cargos que ocupam na empresa, os que ganham mais separados dos que ganham mais. Os de escritório separados dos de campo. Os cortadores de cana são os que menos falam, pois sabem que são os mais oprimidos e mais vigiados. Quais estratégias em nossa mística devemos adotar para conseguir ouvi los, incentiva los a falarem? Nas festas, na igreja, no campo de futebol?

Quando o migrante diz que quer adquirir bens materiais, celulares, motocicletas, não podemos fazer uma leitura simplista sobre o consumismo e taxa los de serem, pois existe uma diferença entre consumismo e bens necessários, importantes. É preciso entender o contexto.

Partilha dos grupos sobre o que vêem do lado direito, esquerdo e a frente da estrada:

A esperança dos migrantes, a vinda em busca de melhores condições de vida, do bem viver. Na agricultura familiar a fartura, a produção, estabilidade. Estradas cheias de árvores. Placas de assentamentos. Assentamentos. Ipês floridos. Do meio das cinzas um raminho com duas pétalas. A beleza do cerrado, as árvores tortas, as flores. A esperança.

As queimadas como um problema sério ao meio ambiente. Cultivo de eucaliptos, seco. Cerrado virando deserto. Caminho que vamos percorrendo sem refletir.  Cera bem próxima a estrada delimitando a caminhada. Correria. Elementos da fauna mortos. Pessoas tristes. Muita pedra e muito buraco nas estradas. Mata burros péssimos. Ausência de pessoas. Córregos secos. Grandes plantações de cana. Corpos cansados do trabalho degradante. Muitos celulares individualizando as pessoas. Ausência da escuta. Muitos casos de câncer na região. Jovens cansados. Caminhos confusos, só cinza e terra seca. Pouca água. O agronegócio. A desertificação. Trabalhadores escravizados. Nascentes destruídas. As propostas mentirosas dos contratantes. Desconfiados. Pessoas “mutiladas” em resultado do trabalho degradante. Depressão. Criança deixada em casa sozinha.

O que os grupos apresentaram faz parte do contexto da fronteira em que as pastorais sociais devem estar inseridas.

O poço à beira da estrada para matar a sede, para poder continuar caminhando. Mas o poço não está pronto, temos que construí-lo. O poço é um ponto de passagem, mas também de conflito, da criação, e dentro de uma mística pastoral é um lugar teológico seminal, onde se reencontra Deus, de fortalecimento da fé, de estudo, de fortalecimento das forças, de avaliar, de planejar. Alguns irão morar na beira deste poço, criar raízes, outros seguirão caminhada. Outros um dia retornarão ao poço. A mística da pastoral deve propiciar este poço, este espaço de encontrar Deus. Renascer da terra, ser gente.

A questão do trabalho escravo no Brasil que a CPT e seus parceiros tem denunciado e sistematizado dados, tem um caminho longo a ser percorrido, na prevenção e combate. Seria algo passível de ser resolvida com políticas e programas de distribuição de renda, terras, de re inserção. A denúncia e o anúncio feito pelas pastorais sobre esta questão é um broto, um sinal de vida, de esperança. Este broto, ainda que não verei e nem comerei seus frutos, preciso cuidar dele para que ele possa crescer, produzir e ser um fruto partilhado. Dentro de nossa mística se nós não nos colocarmos na condição de agentes transformadores dificilmente chegaremos a lugar algum. Quantos brotos existem por aí e que não os percebemos, não regamos, cuidamos.

A ilusão do pagamento por produção. Em São Paulo, segundo pesquisas, um trabalhador tem em média vida útil de trabalho no corte da cana de apenas cinco anos. É preciso fazer a reflexão com eles se o ganho momentâneo a mais que outros trabalhadores compensa o desgaste de suas saúdes. É preciso ver isto como um broto. O debate, a consciência, a mudança. Em São Paulo, em função de um trabalho de reflexão sobre esta questão conseguiu se no ano passado a aprovação da lei estadual que proíbe o pagamento por produção. Agora é preciso cobrar pra que ela seja cumprida.

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