Neste domingo, celebramos a Solenidade da Epifania do Senhor, a manifestação visível de Deus na pessoa de Jesus. Foi a primeira festa do nascimento de Jesus no Oriente. Na antiguidade, a Epifania referia-se tanto à manifestação visível de uma divindade quanto à visita solene de um soberano, celebrado como deus, às cidades do seu império (cf. Adam, Adolfo, O Ano Litúrgico, p. 144). Jesus, porém, manifesta-se como verdadeiro Deus e Salvador, atraindo todas as nações que buscam forças para tornar o mundo mais humano e fraterno.
O Evangelho de Mateus, proclamado na liturgia desta Solenidade, não narra o nascimento de Jesus como Lucas, mas o constata e interpreta o seu significado oculto, reconhecendo no menino nascido o Messias esperado. Na resposta dada a Herodes pelos especialistas da Lei e pela hierarquia sacerdotal, está a comprovação do cumprimento da profecia de Miquéias: “Em Belém da Judeia deve nascer o Messias” (Mq 5,1). Esses especialistas, diferente dos magos, conhecem as Escrituras Sagradas, mas não se interessam pelo menino, não têm disposição para caminhar ao seu encontro e adorá-lo.
No menino nascido em Belém, a esperança dos pobres se realiza e a salvação é oferecida a todos os povos. A salvação não vem do centro do poder, Jerusalém, mas da periferia, do meio dos pobres, do pequeno Jesus. Os magos não o encontrarão no palácio de Herodes, mas na manjedoura, onde, desprovido de majestade, Ele se reveste da beleza da simplicidade e mostra a presença de Deus.
Ao colocar o rei Herodes em contato com Jesus, Mateus antecipa o conflito que ocorrerá entre as autoridades oficiais e o verdadeiro Rei e Salvador do seu povo (cf. nota n, TEB, N. T., p. 32 e 33). A salvação não virá pela ação violenta do tirano Herodes, nem pela falsa religião vivida pelos serviçais daquele malvado, mas do pequeno menino nascido na periferia. Esse contraste mostra que o projeto divino não acontece por meio da opressão e do poder humano corrompido, mas pela justiça e pelo amor trazido por Jesus.
Os magos, personagens misteriosos do Evangelho da Epifania, oferecem uma rica simbologia que ultrapassa as tradições populares. Eles desconhecem as Escrituras Sagradas de Israel, mas são sensíveis ao brilho da luz. Atraídos por uma estrela, partiram para adorar o menino recém-nascido (v. 2), cumprindo a profecia de Isaías: “O povo que andava nas trevas viu uma grande luz; sobre os que habitavam numa terra de sombras, brilhou uma luz diante dos seus olhos” (Is 9,1).
Mas quem eram esses magos? Quantos realmente eram? O que simbolizam? O Evangelho não fala de reis, tampouco afirma serem três, nem fornece seus nomes. O texto diz apenas: “Eis que alguns magos do Oriente chegaram a Jerusalém, perguntando: onde está o rei dos judeus que acaba de nascer?” (Mt 2,1b). A palavra magos poderia designar astrólogos babilônios, que provavelmente entraram em contato com o messianismo judaico, mas nada indica que fossem reis.
O número três foi sugerido pela primeira vez por Orígenes, no século III, e está associado aos presentes oferecidos pelos magos a Jesus: ouro, que simboliza a realeza de Jesus e o reconhecimento da dignidade e do valor inestimável do ser humano; incenso, que representa sua divindade e o chamado ao ser humano para participar da vida divina; e mirra, que aponta para sua humanidade que sofrerá, com o convite a cuidar e a consolar as pessoas que sofrem, rejeitando qualquer forma de violência contra o ser humano.
Quanto aos nomes que lhes foram atribuídos: Gaspar, Melquior e Baltasar, provavelmente surgiram de uma bênção das casas, realizada no final da Idade Média, onde eram escritas as letras: C+M+B (Christus Mansionem Benedicat – Cristo abençoe esta casa), iniciais dos três nomes.
Os magos representam o universalismo da salvação. O menino nascido na periferia de Belém é portador da salvação para todos os povos. Como diz São João no prólogo do Evangelho: “Veio para os que eram seus, mas os seus não o acolheram” (Jo 1,11). Aquele que não encontrou abrigo entre os seus atrai povos distantes ao seu amor e conta com a adoração e a generosidade deles.
Contemplando a beleza do presépio, os magos se comovem. Sem razão para crer que aquele menino é o Messias esperado, deixam-se tocar pela beleza e ternura de Deus. Para o escritor Rubem Alves, “não existe nada mais comovente do que uma criança adormecida. Quem contempla uma criança adormecida tem de ficar bom, tem de ficar manso (Rubem Alves, Sete vezes Rubem, p. 335). O papa Francisco complementa: “Por que motivo suscita o Presépio tanto enlevo e nos comove? Antes de mais nada, porque manifesta a ternura de Deus. Ele, o Criador do universo, abaixa-se até à nossa pequenez. O dom da vida, sempre misterioso para nós, fascina-nos ainda mais ao vermos que Aquele que nasceu de Maria é a fonte e o sustento de toda a vida. Em Jesus, o Pai deu-nos um irmão, que vem nos procurar quando estamos desorientados e perdemos o rumo, e um amigo fiel, que está sempre ao nosso lado” (Carta Apostólica sobre o presépio, n. 3).
A Solenidade da Epifania é a revelação da bondade de Deus, que deseja salvar a todos. Faz-se necessário, porém, abrir-se ao amor ofertado, discernir onde a salvação é oferecida e resistir às promessas enganosas dos “Herodes” de hoje, que tentam matar a esperança. Como os magos, somos convidados a encontrar Jesus, adorá-lo e retornar por outro caminho, sonhando um caminho novo para nós e para a humanidade.
O início de um novo ano renova nossa esperança, especialmente este ano jubilar. Faço votos de que, ao longo deste novo ano, nos deixemos atrair por Jesus. Como ensina o Documento de Aparecida: “conhecer a Jesus é o melhor presente que qualquer pessoa pode receber; tê-lo encontrado foi o melhor que ocorreu em nossas vidas, e fazê-lo conhecido com nossa palavra e obras é nossa alegria” (DAp, n. 29).