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Jesus traz o vinho novo da alegria e do amor gratuito

Estamos iniciando o Tempo Comum na liturgia, um período que se estende por 34 semanas, com uma breve pausa para o ciclo pascal, que culminará na solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do universo, no dia 23 de novembro. Neste ano seremos acompanhados pelo evangelista Lucas, que nos apresenta Jesus como aquele que traz a esperança de vida para os mais sofridos (cf. Lc 4,14-21) e mostra o rosto misericordioso do Pai (cf. Lc 15).

Neste domingo, como exceção, meditamos o texto das bodas de Caná, do Evangelho de João, que apresenta Jesus numa festa de casamento, onde realiza o seu primeiro sinal, manifestando a sua glória e atraindo a fé dos seus discípulos (v. 11). A alegria, destacada nesse evento, é característica fundamental da nossa fé. O papa Francisco dedicou sua primeira Exortação Apostólica, chamada “A Alegria do Evangelho”, à alegria. O papa defende que ninguém seja excluído da alegria trazida pelo Senhor (n. 3). Francisco reprova os cristãos que parecem ter escolhido viver uma Quaresma sem Páscoa (n. 6) e destaca que um evangelizador não deveria ter constantemente a cara de funeral (n. 10). Para o papa Francisco, o mundo atual espera receber a Boa Notícia não dos lábios de pessoas tristes e desalentadas, mas de missionários fervorosos que experimentaram a alegria de Cristo (n. 10).

O evangelista João apresenta Jesus participando da alegria do seu povo e colaborando para aumentar a alegria dos que festejam um casamento. Maria, sua mãe, também participa com a sensibilidade de mulher, atenta à realidade e ágil para sanar o problema que surge. Ela simboliza a humanidade.

A primeira semana de Jesus, conforme São João, é concluída no sexto dia, com uma festa de casamento, em referência à conclusão da obra da criação, quando Deus criou o ser humano no sexto dia (cf. Gn 1,26-31). Duas ideias básicas estão presentes no evangelho deste domingo: a aliança de Deus com a humanidade e a criação. Jesus instaura a nova Aliança e dá início à nova Criação. A narrativa de João contém muitos símbolos. O casamento é sinônimo de aliança entre duas partes, que devem honrar o compromisso. A infidelidade à aliança firmada com Deus é equivalente ao adultério ou à prostituição. A primeira aliança é representada pelas seis talhas de pedra destinadas ao rito de purificação dos judeus. Elas estão vazias e o vinho já se acabara. Isto significa que a aliança antiga, sustentada pelos ritos de purificação, não tem mais razão de existir.

Jesus inaugura a nova aliança ao transformar a água no vinho novo e abundante. Na bíblia, o vinho simboliza amor (cf. Ct 1,2;7,10;8,2). A abundância de vinho, 600 litros, representa a chegada do Messias, verdadeiro esposo da humanidade, que traz o amor definitivo e sem limites, consumado na cruz. Jesus é aquele que oferta a graça no lugar da Lei. Ele não veio colocar remendo novo em roupa velha (cf. Mc 2,21), mas trazer o vinho novo da alegria e do amor gratuito. O texto não menciona a presença da esposa, que é a humanidade, retratada pela mãe de Jesus.

Pregando sobre este evangelho no Chile, o papa Francisco destacou que a mãe de Jesus, embora sendo mulher de poucas palavras, é concreta e fixa-se no essencial: “Fazei o que Ele vos disser” (v. 5). Ela abriu caminho para o primeiro sinal realizado por Jesus, contando com a nossa participação nas pessoas que estavam servindo. Jesus realiza a sua obra com a nossa participação, quer contar conosco, que devemos encher as talhas de água e ajudar a trazer o vinho novo. Ele não veio a este mundo para realizar sua obra sozinho (cf. https://www.vatican.va/content/francesco/pt/homilies/2018/documents/papa-francesco_20180118_omelia-cile-iquique.html).

Dizia ainda o papa: “Como Maria em Caná, procuremos aprender a estar atentos nas nossas praças e aldeias a reconhecer aqueles que têm a vida «arruinada»; que perderam – ou lhes roubaram – as razões para fazer festa. E não tenhamos medo de levantar as nossas vozes para dizer: «Eles não têm vinho». O grito do povo de Deus, o grito do pobre, que tem forma de oração e alarga o coração, e nos ensina a estar atentos. Estejamos atentos a todas as situações de injustiça e às novas formas de exploração que fazem tantos irmãos perder a alegria da festa. Estejamos atentos à situação de precariedade do trabalho que destrói vidas e famílias. Estejamos atentos a quem se aproveita da irregularidade de muitos migrantes porque não conhecem a língua ou não têm os documentos exigidos. Estejamos atentos à falta de teto, terra e trabalho de tantas famílias. E, como Maria, digamos: Não têm vinho”.

Neste ano que ainda iniciamos, convido você a renovar a alegria trazida pelo Evangelho. Motivados pelo Jubileu, renovemos a esperança de dias melhores. A exemplo de Maria, estejamos atentos às necessidades das pessoas que padecem a carência dos meios necessários para viver a beleza da vida. Sejamos como os servos da festa que colaboraram para Jesus realizar o milagre do vinho novo.

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