Neste domingo, celebramos a Festa da Apresentação do Senhor, após 40 dias do Natal, em cumprimento à Lei dos judeus, que prescrevia a purificação da mãe e a apresentação do filho. José e Maria apresentam Jesus ao Pai, que envia seu Filho para anunciar a Boa Nova aos pobres e trazer os valores do Reino de Deus.
São Lucas, no Evangelho deste domingo, ajuda-nos a entender, em primeiro lugar, que Jesus se encarnou totalmente na realidade do seu povo, especialmente dos empobrecidos. Ele assumiu a sua caminhada como membro de um povo, satisfazendo as exigências da lei judaica. Seus pais vão ao templo, cumprindo a exigência da purificação da mãe e consagrando o menino Jesus (cf. Lv 12,2-4; Ex 13,11-13). Mais do que mostrar os pais de Jesus cumprindo a Lei, Lucas deseja dizer quem é Jesus. Ele é uma exceção entre os primogênitos, que, por pertencerem a Deus, deveriam ser resgatados (cf. Ex 13,13). Jesus não foi resgatado, pois será o resgatador da humanidade. Permanecerá para sempre como o consagrado do Pai, oferecido em favor da humanidade.
O sacrifício que José e Maria oferecem a Deus, um par de rolas ou dois pombinhos, é o que os pobres podiam ofertar pela purificação da mãe, cumprindo as prescrições da Lei judaica (cf. Lv 12,8). Eles pertencem aos pobres e seu Filho Jesus se apresenta à humanidade e a Deus como pobre, atraindo as esperanças e anseios dos empobrecidos, que vibram de alegria por verem a salvação de Israel, louvam a Deus pelo dom recebido e comunicam essa alegria a todos os que esperavam a salvação.
Lucas destaca duas pessoas encontradas no templo: Simeão e Ana, anciãos que representam todas as pessoas que anseiam por consolação e libertação.
Simeão é descrito por Lucas como um homem justo e piedoso, que vai ao templo movido pelo Espírito Santo. É curioso que o evangelista não fale dos sacerdotes de plantão no templo. Não é um sacerdote que apresenta Jesus, mas um representante dos pobres. Os homens “piedosos” pertenciam à categoria dos pobres que tinham anseio por libertação. Os justos, conforme a Bíblia, eram os que nunca desistiam de crer na vitória da justiça e de lutar por isso.
Ana é descrita como viúva, com 84 anos e profetisa (vv. 36-37). Ela não se cansava de falar do menino a todos que esperavam a libertação de Jerusalém (v. 38). Servia a Deus com jejuns e orações constantes, modo alternativo de servir, diferente do culto prestado a Deus com os sacrifícios, ofertas diversas e dinheiro.
No menino Jesus está a realização do anseio dos pobres e sofredores, que, em Simeão, o tomam nos braços e renovam a esperança de vida nova. Ele será luz para todas as nações (v. 32). Mas também será motivo de queda e de reerguimento para muitos em Israel (v. 34). Com a sua prática irá desmascarar a hipocrisia de tantos que aparentam ser justos diante dos homens, mas não o são perante Deus. Diante dele, as pessoas deverão decidir-se e se manifestarão os choques de interesses entre os que desejam uma sociedade desigual e injusta, mantendo privilégios e penalizando os mais pobres. As palavras proféticas de Simeão, vendo em Jesus a causa de queda e de reerguimento de muitos, referem-se à rejeição histórica de Israel, que atinge o cume na condenação e morte violenta de Jesus. Maria, a mãe de Jesus, perfeita discípula, assume o projeto de Deus, também como pequena, movida pelo Espírito. Ela sofrerá a dor desse seguimento: uma espada lhe atravessará a alma (v. 35).
Na Bula do papa Francisco que proclama o Ano Jubilar de 2025, a palavra esperança aparece 99 vezes. O papa introduz o seu documento desejando que a esperança encha o coração de todos nós. Ele constata a presença da esperança no coração de cada pessoa, como desejo do bem, embora seja imprevisível o amanhã, podendo causar sentimentos de medo, insegurança e dúvidas, e deseja que o Jubileu seja, para todos, ocasião de reanimar a esperança. Na conclusão do seu Documento o papa convida-nos a deixar-nos atrair pela esperança e a irradiá-la com a nossa vida; e deseja “que a força da esperança encha o nosso coração no presente, aguardando com confiança o regresso do Senhor Jesus Cristo, a Quem é devido o louvor e a glória agora e nos séculos futuros”.
Como o velho Simeão, vibremos de alegria com a chegada de Jesus! Nossos olhos viram a salvação, a chegada da Luz para iluminar a nossa história com seus desafios, renovando a nossa esperança. Nesta Festa da Apresentação do Senhor, louvemos e agradeçamos a Deus pela vinda do seu Filho ao nosso encontro. De modo especial neste ano jubilar, movidos pelo tema “Peregrinos de Esperança”, “não deixemos que nos roubem a esperança” (EG n. 86).
+ Dom Jeová Elias
Bispo Diocesano de Goiás