InícioBispo DiocesanoA Voz do Pastor“Deixaram tudo e seguiram a Jesus” (Lc 5,11)

“Deixaram tudo e seguiram a Jesus” (Lc 5,11)

No Evangelho deste domingo, Lucas apresenta Jesus em Cafarnaum, depois de ser rejeitado em Nazaré (cf. Lc 4,29-30), onde prosseguirá a sua missão, mas não se detém lá. Em Cafarnaum Ele é acolhido pela multidão sedenta da palavra de Deus (v. 1). O local não é mais a sinagoga, mas a margem do lago de Genesaré, ambiente que marcará muitas cenas dos Evangelhos. Jesus está sentado, não numa cátedra, mas numa barca. Ele é o pregador itinerante que anuncia a palavra de Deus à multidão e renova a esperança do seu povo. Além de ensinar, Jesus chama os seus primeiros apóstolos (vv. 10-11).

Lucas destaca a pessoa de Pedro, cuja barca acolhe o Senhor. Sentado na barca, Jesus pede para se afastar da margem, não para se distanciar das pessoas, mas para olhá-las de frente e se compadecer dos seus rostos sofridos. O lago de Genesaré, cenário do Evangelho deste domingo, mais do que um lugar geográfico, é um lugar teológico. Lucas condensa vários episódios na narrativa de hoje, rica em simbolismo. Destacam-se no texto as palavras: barca, pesca, redes, margem, palavra, ensinar, escutar, falar…

Jesus chama os primeiros apóstolos à margem do lago, depois de uma pesca infrutífera, na presença de uma multidão que busca ouvir a palavra de Deus. Certamente aqueles pescadores estavam desalentados com o resultado do seu labor: não pescar um peixe, depois de uma noite de trabalho, é uma frustração. O fato simboliza a missão da comunidade por volta dos anos 85/90, necessitada de reafirmar a fé e a confiança em Jesus. A vida e a palavra dele despertam a avançar para as águas mais profundas e a jogar as redes para a pesca (v. 4).

Após falar à multidão, palavras de esperança aos que sofrem, Lucas menciona a ordem dada por Jesus a Simão para que avancem às águas mais profundas (v. 4). Aqui, destaca-se a importância da palavra. Jesus anuncia a palavra de Deus, o povo busca escutar a palavra de Jesus, e, por causa da sua palavra, Pedro lança as redes e apanha uma grande quantidade de peixes. A palavra de Jesus é fecunda, produz o que comunica. Mesmo não sendo pescador, ele sabe onde encontrar os peixes e capturá-los. Ainda por causa da palavra de Jesus, Pedro deixa tudo e, junto com os seus companheiros, segue a Jesus.
A pesca extraordinária, incomum para o horário, faz com que Pedro perceba no mestre o Senhor e, ao mesmo tempo, reconheça a sua pequenez atirando-se aos pés de Jesus: é um pecador (v. 8). A reação de Pedro lembra a postura do profeta Isaías ao considerar-se impuro diante de Deus (cf. Is 6,5). A nova palavra de Jesus supera as barreiras e abre um novo horizonte a Pedro: ele não deve ter medo. A partir de então será pescador de homens (v. 10). A tarefa de Pedro, mais do que pegar peixes, será atrair as pessoas para a verdadeira vida em Cristo.

Lucas destaca a generosidade de Pedro e seus companheiros: “levaram as barcas para a margem, deixaram tudo e seguiram a Jesus” (v. 11). Eles teriam motivos para dizer não. Poderiam dar algumas desculpas razoáveis, mas foram generosos. A resposta deles é distinta daquela do homem rico, incapaz de desapegar-se da sua riqueza (cf. Lc 18,18-23). Ele também recebera o mesmo convite, mas preferiu continuar com os seus bens materiais em vez de seguir a Jesus.

O papa Francisco afirma que hoje todos somos chamados a sair em missão. Cada cristão e cada comunidade devem discernir qual é o melhor caminho que o Senhor lhes pede, mas todos devem aceitar o chamado, sair da própria comodidade e ter a coragem de alcançar todas as periferias que precisam da luz do Evangelho (cf. Evangelii Gaudium n. 20). Infelizmente, muitas pessoas não têm a disposição e a generosidade desses apóstolos. Temem perder, romper um estilo de vida confortável, acham que o chamado comporta uma cruz demasiadamente pesada a carregar. Perdem a oportunidade de acolher a maior riqueza oferecida: seguir o Senhor, viver e anunciar a alegria do Evangelho.

Com os primeiros apóstolos devemos aprender a lição da generosidade na resposta ao chamado de Jesus. A não ficar apegados ao pequeno barco e não abrir mão dele. Pedro, ao abrir mão do seu pequeno barco, recebeu uma barca maior para conduzir: a Igreja.
O chamado de Jesus se renova a cada dia, se atualiza nas mudanças culturais. Ele é dinâmico, não fica parado no tempo. Continua a nos desafiar a avançar para as águas mais profundas. Neste ano Jubilar, somos chamados a caminhar com esperança interpretando os sinais dos tempos à luz do Evangelho para dar novas respostas, de modo adaptado à realidade atual. Na Bula que proclama o Jubileu de 2025, o papa convida-nos a não nos deixarmos subjugar pelo mal e a violência, mas prestarmos atenção a tanto bem que existe no mundo. Contudo, também temos de perceber a carência da presença salvífica de Deus.

Devemos deixar-nos atrair pela virtude da esperança e transmiti-la a todas as pessoas que nos rodeiam, especialmente a tantos irmãos e irmãs que vivem situações difíceis. No mundo atual, que mostra inúmeros sinais da sede de Deus, do sentido último da vida, somos chamados a ser pessoas-cântaros para dar de beber aos outros (cf. Evangelii Gaudium, n. 86).

+ Dom Jeová Elias
Bispo Diocesano de Goiás

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