Continuamos acompanhando Jesus na sua caminhada a Jerusalém. Grandes multidões o acompanhavam (v. 25), mas nem todos o seguiam como discípulos. Lucas diz que Jesus voltou-se para a multidão, olhou de frente e a interpelou com as condições para o seu seguimento. O momento é solene, o que se demonstra pelo gesto de voltar-se para a multidão, sempre descrito por Lucas nas declarações decisivas de Jesus (Cf. 7,9.44; 9,55; 10,22-23; 22,61; 23,28). Nessa multidão cada um de nós está incluído, é indagado por Jesus e deve responder com consciência e generosidade. Cada pessoa é convidada a sair do anonimato, pois não é suficiente dizer-se cristão e pertencer ao povo de Deus, é preciso assumir pessoalmente a fé, com o consequente compromisso comunitário que ela acarreta.
Lucas apresenta as condições propostas por Jesus a quem quiser ser seu discípulo ou discípula. Os requisitos apresentados podem parecer demasiadamente exigentes e mais desestimular do que incentivar o seguimento de Jesus, deduzido, sobretudo, pelas dez repetições da palavra “não”. Jesus não faz propaganda enganosa, não quer iludir as pessoas e nem quer que elas se iludam aderindo ao seu projeto. Segui-lo comporta riscos. O seu seguimento é dom de Deus, mas requer uma decisão pessoal consciente, livre, responsável e generosa. Esse encontro com Jesus dará um sentido pleno e verdadeiro à vida de cada pessoa. A nossa felicidade depende dessa resposta ao chamado dele.
A exigência fundamental para seguir Jesus é ser desapegado: dos laços afetivos, dos bens materiais e até da própria vida (vv. 26 e 33). Ele deve ser absoluto. Mas o seu seguimento lança uma nova luz na relação com as pessoas, com as coisas e consigo mesmo. Quem o encontra e se dispõe a segui-lo com generosidade encontra também o sentido profundo e verdadeiro da vida. O projeto dele tem como essencial o convite a amar: a Deus, aos irmãos e irmãs e até mesmo aos inimigos.
Claro que algumas renúncias são muito difíceis e sofridas, mas elas fazem parte da nossa existência desde a concepção. Ao longo da nossa vida vamos renunciando a algo por algum ideal, para obter novas conquistas. O que somos é fruto de muitas renúncias: ao tempo livre, ao lazer ou outras ocupações para estudar e conquistar um diploma; à sofrida saída do útero materno para contemplar a beleza do mundo e usufruir da sua generosidade; às diversas fases da vida que se abrem às novidades, com suas alegrias e angústias…
Outra exigência feita por Jesus a quem quiser ser seu discípulo é carregar sua cruz atrás dele (v. 27). Esta exigência vai além da ascese cristã. Supera os pequenos sacrifícios que fazemos diariamente, nossa renúncia a satisfações legítimas, a mortificação individual. A cruz é consequência da fidelidade ao projeto de Jesus, que a carregou em obediência ao Pai e como consequência da sua opção pelos últimos. Carregar a cruz era parte do rito de execução dos condenados, que percorriam as ruas portando um cartaz onde estava escrito o delito cometido. Era uma forma de impor mais humilhação aos sentenciados. A fidelidade ao projeto de Jesus trará como consequência a cruz, pois incomoda a muitos. Carregar a cruz é dispor-se a “enfrentar a morte violenta, a exemplo de Jesus e por fidelidade a Ele” (Fabris, F., Maggioni, B., Os Evangelhos (II), p. 158).
As duas parábolas contadas por Jesus, da pessoa que não iniciará a construção de uma torre sem ter os recursos para concluí-la e do rei que não enfrentará uma guerra tendo a metade dos soldados que possui o exército do seu inimigo, mostram que a decisão para seguir Jesus deve ser ponderada, consciente e perseverante até o fim. O texto é reflexo da crise de muitos que não perseveraram no caminho com Jesus, que desanimaram ao longo da estrada. A grande diferença e o paradoxo entre as duas parábolas, comparadas com o seguimento de Jesus, é que o construtor tem recursos, e os reis dispõem de soldados, mas o discípulo de Jesus deve ser desprovido de bens, deve ter como absoluto o Senhor.
Os santos foram capazes de entender a proposta de Jesus, de considerar a relatividade das coisas e se decidirem pelo absoluto de Deus. São Charles de Foucauld, canonizado no dia 15 de maio deste ano pelo papa Francisco, ao recordar a sua conversão afirmou: “Quando descobri que Deus existia, descobri também que não poderia viver senão para ele. Minha vocação religiosa nasceu no mesmo instante da minha conversão” (Damian, Edson, Espiritualidade para o nosso tempo, p. 13). Ele “descobriu que a centralidade da vida de todo cristão é o absoluto de Deus” (Ibidem, p. 37).
Há cerca de 50 anos celebramos em setembro o mês da Bíblia, com o objetivo de fazer com que a Palavra de Deus ilumine a caminhada das nossas comunidades, traga alento em meio às dificuldades e coragem para transformar o que não está conforme o projeto de Deus. Neste ano é proposto a cada um de nós, para oração, reflexão e estudo, o livro de Josué, com o tema: “ O Senhor, teu Deus, estará contigo por onde quer que vás (Js 1,9). Esse livro apresenta o esforço do povo de Deus na luta e conquista da terra prometida. Serve de inspiração no empenho do nosso povo por uma vida digna. Vivenciemos com intensidade este mês da Bíblia.
Continuamos acompanhando Jesus na sua caminhada a Jerusalém. Grandes multidões o acompanhavam (v. 25), mas nem todos o seguiam como discípulos. Lucas diz que Jesus voltou-se para a multidão, olhou de frente e a interpelou com as condições para o seu seguimento. O momento é solene, o que se demonstra pelo gesto de voltar-se para a multidão, sempre descrito por Lucas nas declarações decisivas de Jesus (Cf. 7,9.44; 9,55; 10,22-23; 22,61; 23,28). Nessa multidão cada um de nós está incluído, é indagado por Jesus e deve responder com consciência e generosidade. Cada pessoa é convidada a sair do anonimato, pois não é suficiente dizer-se cristão e pertencer ao povo de Deus, é preciso assumir pessoalmente a fé, com o consequente compromisso comunitário que ela acarreta.
Lucas apresenta as condições propostas por Jesus a quem quiser ser seu discípulo ou discípula. Os requisitos apresentados podem parecer demasiadamente exigentes e mais desestimular do que incentivar o seguimento de Jesus, deduzido, sobretudo, pelas dez repetições da palavra “não”. Jesus não faz propaganda enganosa, não quer iludir as pessoas e nem quer que elas se iludam aderindo ao seu projeto. Segui-lo comporta riscos. O seu seguimento é dom de Deus, mas requer uma decisão pessoal consciente, livre, responsável e generosa. Esse encontro com Jesus dará um sentido pleno e verdadeiro à vida de cada pessoa. A nossa felicidade depende dessa resposta ao chamado dele.
A exigência fundamental para seguir Jesus é ser desapegado: dos laços afetivos, dos bens materiais e até da própria vida (vv. 26 e 33). Ele deve ser absoluto. Mas o seu seguimento lança uma nova luz na relação com as pessoas, com as coisas e consigo mesmo. Quem o encontra e se dispõe a segui-lo com generosidade encontra também o sentido profundo e verdadeiro da vida. O projeto dele tem como essencial o convite a amar: a Deus, aos irmãos e irmãs e até mesmo aos inimigos.
Claro que algumas renúncias são muito difíceis e sofridas, mas elas fazem parte da nossa existência desde a concepção. Ao longo da nossa vida vamos renunciando a algo por algum ideal, para obter novas conquistas. O que somos é fruto de muitas renúncias: ao tempo livre, ao lazer ou outras ocupações para estudar e conquistar um diploma; à sofrida saída do útero materno para contemplar a beleza do mundo e usufruir da sua generosidade; às diversas fases da vida que se abrem às novidades, com suas alegrias e angústias…
Outra exigência feita por Jesus a quem quiser ser seu discípulo é carregar sua cruz atrás dele (v. 27). Esta exigência vai além da ascese cristã. Supera os pequenos sacrifícios que fazemos diariamente, nossa renúncia a satisfações legítimas, a mortificação individual. A cruz é consequência da fidelidade ao projeto de Jesus, que a carregou em obediência ao Pai e como consequência da sua opção pelos últimos. Carregar a cruz era parte do rito de execução dos condenados, que percorriam as ruas portando um cartaz onde estava escrito o delito cometido. Era uma forma de impor mais humilhação aos sentenciados. A fidelidade ao projeto de Jesus trará como consequência a cruz, pois incomoda a muitos. Carregar a cruz é dispor-se a “enfrentar a morte violenta, a exemplo de Jesus e por fidelidade a Ele” (Fabris, F., Maggioni, B., Os Evangelhos (II), p. 158).
As duas parábolas contadas por Jesus, da pessoa que não iniciará a construção de uma torre sem ter os recursos para concluí-la e do rei que não enfrentará uma guerra tendo a metade dos soldados que possui o exército do seu inimigo, mostram que a decisão para seguir Jesus deve ser ponderada, consciente e perseverante até o fim. O texto é reflexo da crise de muitos que não perseveraram no caminho com Jesus, que desanimaram ao longo da estrada. A grande diferença e o paradoxo entre as duas parábolas, comparadas com o seguimento de Jesus, é que o construtor tem recursos, e os reis dispõem de soldados, mas o discípulo de Jesus deve ser desprovido de bens, deve ter como absoluto o Senhor.
Os santos foram capazes de entender a proposta de Jesus, de considerar a relatividade das coisas e se decidirem pelo absoluto de Deus. São Charles de Foucauld, canonizado no dia 15 de maio deste ano pelo papa Francisco, ao recordar a sua conversão afirmou: “Quando descobri que Deus existia, descobri também que não poderia viver senão para ele. Minha vocação religiosa nasceu no mesmo instante da minha conversão” (Damian, Edson, Espiritualidade para o nosso tempo, p. 13). Ele “descobriu que a centralidade da vida de todo cristão é o absoluto de Deus” (Ibidem, p. 37).
Há cerca de 50 anos celebramos em setembro o mês da Bíblia, com o objetivo de fazer com que a Palavra de Deus ilumine a caminhada das nossas comunidades, traga alento em meio às dificuldades e coragem para transformar o que não está conforme o projeto de Deus. Neste ano é proposto a cada um de nós, para oração, reflexão e estudo, o livro de Josué, com o tema: “ O Senhor, teu Deus, estará contigo por onde quer que vás (Js 1,9). Esse livro apresenta o esforço do povo de Deus na luta e conquista da terra prometida. Serve de inspiração no empenho do nosso povo por uma vida digna. Vivenciemos com intensidade este mês da Bíblia.
+Dom Jeová Elias Ferrreira
Bispo Diocesano