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”Onde está o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração” (Lc 12,34)

Durante o mês de agosto refletimos e rezamos pelas diversas vocações. Neste primeiro domingo, o 19º do Tempo Comum, rogamos pelas vocações para o ministério ordenado: diáconos, padres e bispos. Somos gratos a Deus por aqueles que disseram sim ao seu chamado e se colocaram a serviço, especialmente na nossa diocese de Goiás. Também pedimos por aqueles que estão fazendo o discernimento vocacional, para tenham a coragem de dizer sim ao chamado de Jesus e sejam perseverantes na resposta.

O Evangelho deste domingo é composto por 17 versículos, um longo texto, mas com a opção abreviada de 6 versículos. Vamos refletir aqui sobre o texto integral.

Lucas inicia o seu texto com o convite de Jesus ao pequenino rebanho a não ter medo. O rebanho é considerado pequeno na quantidade de seguidores durante a vida de Jesus e, também, pela humildade em que devem viver os seus discípulos. A manifestação do Reino ocorre a partir dos pequenos, que vivem relações fraternas e de partilha, sinais da construção de sociedade e história novas (Cf. Bortolini, Roteiros homiléticos, p. 655). Jesus afirma que não devemos temer, pois o Pai nos deu o Reino, que deve ser buscado em primeiro lugar: o resto virá por acréscimo (Cf. Mt 6,33). O empenho pelo Reino de Deus deve ser a preocupação prioritária. Em consequência, brotam os meios necessários para viver a beleza da vida concedida pelo Pai do céu. Diferente do homem rico, que acumula sua grande colheita preocupado com o futuro (Cf. Lc 12,13-21), os seguidores de Jesus devem dispor dos bens a serviço dos outros e viver a beleza do momento, conscientes de que ele é passageiro. Devem guardar seus bens não nos celeiros, onde podem se estragar ou ser roubados, mas num lugar que transcenda esta vida: no céu.

O discípulo de Jesus deve ser livre diante dos bens, desapegado e atento quanto ao futuro, ao encontro definitivo com o Senhor. Deve viver com responsabilidade o tempo presente. Lucas estava preocupado com a comunidade que esperava a vinda iminente, próxima de Jesus. Que poderia desaminar com a expectativa não concretizada em curto tempo e cair numa rotina descomprometida. Por isso, apresenta Jesus narrando três parábolas, convidando à vigilância ativa quanto à vinda do Senhor: a parábola dos servos que esperam a volta do seu senhor; a parábola do ladrão que chega de surpresa; e a parábola do administrador fiel e responsável.

Na primeira parábola, dos servos que esperam a volta do seu senhor, somos convidados a estar atentos ao encontro definitivo com Jesus. Não temos dúvida de que esse dia chegará, mas também não sabemos quando será.  Aquele que vem é especial, traz a vida em plenitude. Mas temos a responsabilidade de esperar despertos. Os rins cingidos e as lâmpadas acesas significam a prontidão para o acolhimento da libertação trazida por Jesus.  Assim, seremos servidos pelo Senhor no feliz banquete da vida plena;

Mesmo estranha, a imagem do ladrão, utilizada na segunda parábola para falar de Deus, sugere o inesperado da hora em que o Senhor virá, exigindo a preparação permanente e atenta daquele que crê. A surpresa é o principal recurso utilizado pelo ladrão. O papa Francisco tem apreço em dizer que Deus sempre nos surpreende. Certamente as surpresas de Deus são agradáveis, Ele vem trazendo boas notícias, mas devemos estar atentos para acolhê-las;

Por fim, a terceira parábola destaca a responsabilidade das lideranças em servir com generosidade e responsabilidade. Dirige-se aos animadores das comunidades cristãs que não devem descuidar da missão de servir recebida pelo Senhor. Aquele que tem consciência da sua responsabilidade e não a cumpre fielmente responderá pelos seus atos com severidade: “A quem muito foi dado, muito será pedido; a quem muito foi confiado, muito mais será exigido! ” (v. 48b).  Ter ciência da missão recebida é agravante no seu descumprimento. “O conhecimento religioso não é luxo ou privilégio pessoal, mas uma razão a mais de responsabilidade e obrigação” (Fabris, Rinaldo e maggioni, Bruno, Os Evangelhos (II), p. 144). Esta parábola pode ser uma chamada de atenção, especialmente aos ministros ordenados. Nossa vocação se destina ao serviço dos irmãos e irmãs. Nossa missão não é ser astros, mas servidores do Evangelho. Esse serviço tem como destinatários privilegiados os mais sofridos, queridos de Jesus Cristo. Mas a chamada de atenção dirige-se a todos os que têm responsabilidade na Igreja, no governo, nas autarquias, nos diversos serviços ao bem-comum, para que cumpram a tarefa confiada com simplicidade e responsabilidade, sobretudo priorizando o cuidado com os mais pobres e indefesos.

As três parábolas narradas contêm o alerta quanto à imprevisibilidade do encontro definitivo com o Senhor. Jesus nos convida a estar atentos quando Ele vier ao nosso encontro. Lidas numa perspectiva escatológica, as parábolas podem sinalizar o encontro final com Jesus. Destacam a certeza desse encontro, mas deixam em aberto o momento em que ele ocorrerá. Nossa vida é mortal. “É na morte que o homem acaba de se gerar, torna presente todo o seu passado e atinge a plenitude de seu ser. É a morte que dá sentido definitivo à vida. Viver é caminhar para a morte” (Frei Mateus Rocha, Quem é este homem?, p. 94). Na ressurreição de Jesus encontramos a resposta para o enigma da morte e a nossa esperança.

Claro que o Senhor não virá somente na parusia, no juízo final: Ele sempre vem ao nosso encontro e não podemos descuidar em acolhê-lo com amor. Devemos estar com os olhos abertos para reconhecê-lo. Para quem o ama, Ele não virá como um ladrão, ou como um patrão que não avisa a hora do seu retorno aos empregados e ao administrador responsável pelos servos, mas como um amigo querido, que quer o nosso bem. Que Ele não nos encontre dormindo ou desatentos ao bem que devemos fazer.

+Dom Jeová Elias Ferreira

Bispo Diocesano 

 

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