InícioA Voz do PastorReflexão BíblicaO amor deve ser o distintivo do cristão

O amor deve ser o distintivo do cristão

Continuamos, neste VI domingo da Páscoa, o discurso de despedida de Jesus, inserido no contexto da última ceia. O que Ele disse naquela noite soou como um testamento final, que jamais seria esquecido pelos seus discípulos. Suas palavras marcaram para sempre a vida dos apóstolos e devem marcar também a nossa vida. Jesus sabia que a sua morte estava próxima. O que dizer aos seus seguidores? Como eles se comportariam após sua partida? O desejo de Jesus, seu mandamento imperativo, era que os seus discípulos se amassem como Ele os amou (v. 12). O   centro da sua mensagem é o amor: amor que vem do Pai e se dirige ao Filho, do Filho se dirige aos seus discípulos, e estes devem viver o amor entre si. Um amor com as características do amor que Ele teve pelos seus: gratuito, capaz de dar a vida e mesmo de abranger até os inimigos (Cf. Mt 5,44; Lc 6,27). Os discípulos devem permanecer unidos a Jesus pelo vínculo do amor (v. 9). Para Jesus, os seus discípulos serão conhecidos pelo amor que tiverem uns pelos outros (cf. Jo 13,35).

O amor foi o distintivo dos primeiros cristãos. Deles diziam impressionados os que não acreditavam em Jesus: “Vejam como eles se amam” (Tertuliano, Apologia, 39). O amor era o que marcava a relação na comunidade primitiva. Conforme a 1ª carta de João, proclamada na segunda leitura da missa deste domingo, a fonte do amor que devemos ter uns pelos outros é Deus. Quem ama nasceu de Deus e quem não ama não conhece a Deus, “pois Deus é amor” (cf. 1 Jo 4,7-8).  O sentido da nossa existência está em amar. Somos frutos do amor de Deus, que passa pelo amor íntimo entre nossos pais, e devemos ter como objetivo de vida o amor. Amor que não se restringe a sentimento abstrato no nosso coração. O pedido de Jesus é para que o nosso amor se traduza em gestos concretos. Amemo-nos uns aos outros como Ele nos amou. Ele nos amou com uma sensibilidade inconfundível: sentia compaixão pelas pessoas que sofriam, aliviava suas dores e enxugava-lhes as lágrimas; sempre estava disponível para fazer o bem e ajudar a todos aqueles que necessitavam, com gestos de carinho. Ele abraçava as crianças, tocava com ternura os leprosos, curava os enfermos… assim como Jesus fez, também somos convidados a fazer. “Quem ama como Jesus aprende a olhar os rostos das pessoas com compaixão” (Pagola, O Caminho Aberto por Jesus – João, p. 225). Amar como Jesus exige sair de si e ir ao encontro do irmão, especialmente daquele que mais necessita.

O amor deve ser o distintivo da nossa religião! A religião que agrada a Deus é a que manifesta o seu amor e faz com que as pessoas se amem e sintam-se amadas e acolhidas. Aí está o cerne da nossa fé e o grande desafio em vivê-la. Há pessoas que buscam uma religião não para desenvolver a capacidade de amar com mais intensidade, mas para tirar proveito particular. Há outras que querem uma religião das nuvens, ou como um conjunto rígido de doutrinas e não como caminho de seguimento de uma pessoa tão especial: a pessoa de Jesus Cristo, que tinha um grande coração e que só desejou o amor como imperativo. A religião que agrada a Deus vai além dos rituais. A nossa fé deve ser demonstrada não apenas pelos preciosos símbolos religiosos que podemos portar, ou pelas orações que recitamos, mas pela nossa capacidade de amar.

Não é fácil viver o amor, sobretudo numa sociedade pluralista, de muitas ideias, muitas religiões, muitas concepções filosóficas, diversas posições político-partidárias. O diferente tem sido visto por muitas pessoas como inimigo a ser combatido e até abatido. Contudo, o diferente também é meu irmão, é um ser humano que deve ser acolhido e amado. Quanta energia algumas pessoas desperdiçam alimentando o sentimento de ódio, sendo intolerantes. É lamentável que muitos ajam assim em nome da própria fé, da pureza da religião, numa espécie de caça às bruxas. Por que desperdiçar tanta energia fazendo o mal?

Jesus conclui o texto deste domingo tratando seus discípulos como amigos e não como servos. Para Ele, aos amigos é dado a conhecer o que foi ouvido do Pai (cf. v. 15). A grande novidade destacada por João é que os discípulos de Jesus são escolhidos por Ele, ao contrário dos discípulos de então que escolhiam os seus mestres. Isto não significa exclusão de outras pessoas, mas que a iniciativa parte de Jesus e não dos discípulos, que são generosos na resposta ao seu chamado. Conforme o Documento de Aparecida, Jesus convida os seus discípulos a se vincularem estreitamente a Ele como amigos e como irmãos. “O amigo ingressa em sua Vida, fazendo-a própria. O amigo escuta a Jesus, conhece ao Pai e faz fluir a vida de Jesus Cristo na própria existência” (DAp n. 132).

João conclui o evangelho deste domingo com o mandato de Jesus: “amai-vos uns aos outros” (v. 17).

+Dom Jeová Elias

Bispo Diocesano

 

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