InícioA Voz do PastorReflexão BíblicaMaria, modelo fidelidade a Deus e de alegre expectativa

Maria, modelo fidelidade a Deus e de alegre expectativa

Celebramos hoje o II domingo do Advento. Embora os domingos deste tempo litúrgico tenham precedência sobre outras solenidades, no Brasil, por concessão especial da Santa Sé, celebramos a Solenidade da Imaculada Conceição da Bem-aventurada Virgem Maria. Essa autorização ocorre em vista da profunda devoção do nosso povo por Maria, reconhecendo sua importância no caminho de preparação para o Natal. Nesta solenidade, celebramos a “bendita entre as mulheres”, escolhida por Deus para gerar o “bendito fruto do seu ventre”, Jesus, o Filho de Deus e nosso libertador.

A Imaculada Conceição de Maria é uma verdade de fé proclamada pelo papa Pio IX, em 1854. Por Imaculada Conceição, entendemos que Maria “foi preservada imune de toda mancha do pecado original, por insigne privilégio da graça de Deus todo-poderoso, em previsão dos méritos de Cristo, Redentor do gênero humano” (Adolf Adam, O Ano Litúrgico, p. 205). De acordo com a primeira leitura desta solenidade, devido à desobediência dos nossos primeiros pais, todos, embora sem culpa pessoal, ficamos privados da graça divina, nascemos com a mancha do pecado original. No sacramento do Batismo somos lavados desse pecado. Contudo, Maria, em vista da missão especial a ela destinada por Deus, foi preservada desse pecado desde a sua concepção, pelos méritos antecipados da paixão redentora de Jesus. Imaculada Conceição significa isso.

Maria é modelo de alegre expectativa neste tempo de Advento. Nela o Filho de Deus se torna humano e vem habitar conosco. A melhor maneira de viver o Advento é imitando Maria e abrindo o coração para acolher Jesus Cristo. Maria é símbolo de todos os empobrecidos que anseiam por vida digna.

O Evangelho desta solenidade, segundo o evangelista Lucas, apresenta a cena da “Anunciação”, em que o anjo Gabriel anuncia a Maria a sua escolha para ser a mãe de Jesus, o Filho do Altíssimo (vv. 31-32). Esse foi o anúncio mais importante que se ouviu em toda história da humanidade. Ele transformou para sempre o curso da história. A cena acorre na insignificante aldeia de Nazaré, situada na região Norte da Palestina, malvista pelos judeus que questionavam a possibilidade de sair algo bom de lá (cf. Jo 1,46). Nazaré era um povoado pobre e ignorado, que nunca fora citado na história religiosa dos judeus. Conforme a mentalidade judaica da época, completamente à margem dos caminhos de Deus e da salvação (cf. www.dehonianos.org/portal/solenidade-da-imaculada-conceicao-ano-c/). Jesus entra na nossa história numa periferia geográfica, na humilde casa de Maria, não nos palácios de Jerusalém.

O primeiro convite do anjo Gabriel a Maria é para que ela se alegre: “Alegra-te, cheia de graça, o Senhor está contigo” (Lc 1,28). O motivo para a alegria de Maria é a presença do Senhor na sua vida e a sua eleição para ser a Mãe do Filho de Deus. O Messias vem para construir uma nova história, por isso o convite à alegria. O segundo convite é para que Maria não tenha medo, pois fora agraciada por Deus com o dom da maternidade divina. Quantas jovens tiveram esse anseio, mas somente ela foi contemplada! O medo era comum na história da vocação dos grandes personagens da Bíblia: Abraão, Moisés, Jeremias e outros. Era fruto da consciência da grandeza da missão recebida e do temor de não corresponder.

Não obstante o convite a alegrar-se, Maria fica perturbada, não entende o que está acontecendo e busca explicação (v. 34). Era incomum a saudação dirigida a uma mulher. Ela diz não conhecer homem algum. O verbo conhecer, na Bíblia, expressa intimidade profunda entre o casal. A pergunta de Maria é: como, sendo virgem, poderia conceber? Diante da grandeza da missão confiada, Maria é convidada a não ter medo. Ela contará com a presença do Espírito e será coberta com a sombra do Altíssimo (v. 35). A sombra recorda a nuvem que protegia o povo de Deus na caminhada libertadora rumo à terra prometida. O anjo destaca que para Deus não há coisas impossíveis (v. 37). Para justificar sua afirmação, cita como exemplo a gravidez da idosa Isabel, considerada estéril (v. 36). O extraordinário ocorrerá na vida da jovem Maria.

Conforme o cardeal português José Tolentino (cf. O Elogio da Sede, p. 148-50), na cena da anunciação encontramos as três etapas da nossa maturidade existencial: a da surpresa, em que, como Maria (cf. v. 29), ficamos desconcertados com a missão que Deus quer nos confiar. Por que comigo? Por que eu? Mas Deus convida a não ter medo (cf. v. 30); depois buscamos esclarecer as dúvidas: como ocorrerá isso? (cf. v. 34). Deus dá a resposta aos nossos questionamentos, prometendo agir na nossa vida (cf. v. 35). Por fim, devemos dar o sim ao chamado divino, como Maria: “Eis aqui a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra” (v. 38).

Maria, no encontro com o anjo, descobre que sua vida está a serviço de um projeto maior e coloca-se inteiramente disponível ao chamado divino. Seu sim foi generoso, fiel e verdadeiro. Marcou para sempre a história humana. Como ela, abramos o coração para acolher Jesus, que não encontrou uma hospedaria para nascer. Na alegre expectativa da sua vinda, dirijamos o nosso olhar ao alto, de onde vem o Senhor, mas também ao nosso redor, onde Ele se faz presente nos pobres e sofredores.

Assim como Deus quis contar com o sim de Maria para Jesus entrar na nossa história, hoje Ele continua querendo o nosso sim para nascer em tantos corações e transformar os ambientes. Que o nosso sim ao seu projeto de amor seja generoso e fiel como o sim de Maria.

 

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