Celebramos neste terceiro domingo, no Brasil, a Solenidade da Assunção de Nossa Senhora ao céu. Trata-se de uma das últimas verdades de fé definida pela Igreja, pelo Papa Pio XII. Desde tempos antigos o povo acreditava que Maria tinha sido levada ao céu. No Oriente, a partir do século VI, já celebravam a festa da dormição de Nossa Senhora. Havia um anseio popular por essa definição. Milhares de pedidos foram encaminhados ao papa, que acolheu o desejo do povo e contou com a concordância quase unânime dos bispos consultados para realizar essa definição, disposta com a Constituição Apostólica Munificentissimus Deus, em 1º de novembro de 1950. Também rezamos, neste terceiro domingo de agosto, mês dedicado à reflexão e oração pelas diversas vocações, pelos religiosos e religiosas que consagram a vida na doação total a Deus e aos irmãos.
A Assunção, ou elevação de Maria ao Céu, é graça divina, é a realização da vitória do ressuscitado na vida da sua querida mãe; é também resposta humana: Maria, que esteve sempre associada ao seu filho Jesus na vida terrena, é elevada por Ele, permanece junto dele na vida celeste. Ela correspondeu ao projeto de Deus. Nela ocorre a vitória da humanidade que é fiel ao projeto de vida que Deus tem para todos os seres humanos. Toda vocação assenta na humanidade, que é o caminho para a santificação, e não podemos esquecer isso, porque, em alguns períodos da história, Maria foi apresentada quase como uma pessoa divina, subestimando-se a beleza e a riqueza da sua humanidade, que o Documento de Aparecida restitui, diferente da visão tradicional, valorizando nela o aspecto do discipulado. O Documento de Aparecida a descreve na sua beleza humana, como discípula-missionária que se preocupa com a vida dos nossos povos; qualifica-a como a discípula mais perfeita do Senhor, seguidora mais radical de Cristo (Cf. DAp n. 266 e 270).
O Evangelho desta Solenidade começa afirmando que Maria partiu apressadamente para a região montanhosa, dirigindo-se ao povoado onde residiam Zacarias e Izabel. Narra o encontro das duas mulheres, agraciadas de modo extraordinário com o dom da maternidade, uma jovenzinha e outra idosa, e o diálogo ocorrido, cheio de alegria e gratidão. No ventre delas pulsam Jesus e João Batista. O texto termina afirmando a permanência de Maria durante três meses na casa de Isabel.
Como central, Lucas destaca o encontro das duas mulheres: Maria e Izabel. Os homens não participam da cena, aparecem somente citados. O papa Francisco aprecia muito a cultura do encontro, entendida como um caminho que integra, valoriza os dons de cada pessoa que tem algo a oferecer e também sempre tem algo a receber. Em Maria, Deus encontra o seu povo e vem morar definitivamente na nossa história, jamais nos abandona. No seio de Maria, Jesus se faz carne e arma sua tenda entre nós. A presença de Deus não está mais estaticamente restrita ao templo de pedras em Jerusalém, mas a um templo vivo, o corpo de Maria. Antes de partir ao encontro de Isabel, Maria recebe a visita do Anjo Gabriel. Aquela que é encontrada, visitada e habitada por Deus, também se dispõe a caminhar, a encontrar outras pessoas, a levar Jesus, a servir, movida pelo encanto da alegria que vibra no seu coração e a impele a levar essa alegria aos outros. Diz o querido papa Francisco que ninguém pode ser excluído da alegria trazida pelo Senhor (Cf. Evangelii Gaudium n. 03).
Que belo encontro dessas duas mulheres: entre o antigo e o novo; encontro entre a memória que se transmite e a esperança que se realiza no hoje da nossa história. Desse encontro brota a gratidão a Deus na oração colocada por São Lucas nos lábios delas: uma parte da Ave-Maria, a oração mais querida do nosso povo católico, proferida por Isabel: “Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre! ” (v. 42); e o Magnificat, proclamado por Maria, cantando a ação de Deus que nunca se esquece do seu povo, que é sensível à dor e ao sofrimento dos pequenos. Que destrona os poderosos e levanta os decaídos.
Na Assunção celebramos o encontro definitivo de Maria com Deus. Esse encontro acontece por graça, mas também porque ao longo da vida Maria buscou encontros humanizadores. Ela foi elevada, subiu ao céu, porque desceu, porque se fez serva, seguindo o exemplo do seu Filho, indo ao encontro dos preferidos do Pai.
O papa Francisco, citando o poeta Vinícius de Moraes, diz que “a vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro na vida” (Fratelli Tutti, n. 215). Convida a fazer crescer a cultura do encontro para superar as divisões entre os diferentes. As diferenças não devem provocar inimizades, mas ser oportunidade de enriquecimento da sociedade, em que os diversos dons sejam colocados a serviço do bem comum. Maria foi marcada ao longo da vida por muitos encontros e também por desencontros. Como ela, somos convidados a ir ao encontro dos outros, a compartilhar a alegria do Evangelho e contribuir para renovar a esperança das pessoas desanimadas com os rumos da nossa história. Como nossa querida mãe, não meçamos sacrifícios e esforços para encontrar os irmãos e irmãs. O encontro com as pessoas nos enriquece, deve nos ajudar a ser melhores e a tornar os outros melhores. Como diz o papa Francisco, devemos construir pontes que nos irmanam e não muros que nos dividam.
Neste terceiro domingo de agosto, manifesto minha gratidão aos religiosos e religiosas que, como Maria, consagram a vida a serviço do Reino de Deus, especialmente os que se encontram na nossa Diocese. Bendito seja Deus por aqueles e aquelas que disseram sim ao seu chamado e deram um belo sentido às suas vidas servindo. Rezemos para que tantos outros também tenham a coragem de dizer sim à vocação religiosa.
+Dom Jeová Elias Ferreira
Bispo Diocesano