O Evangelho deste primeiro domingo de setembro, o 22º domingo do Tempo Comum, continua a temática do domingo passado, quando Pedro professara que Jesus era o Messias. Mateus inicia seu texto mostrando que Jesus anuncia um novo começo aos seus discípulos, o caminho da cruz. No percurso desse caminho, como ponto ápice, está Jerusalém, onde, depois de sofrer ataques das elites dominantes, Jesus será morto, mas ressuscitará. Conforme discurso do papa Francisco ao episcopado brasileiro no Rio de Janeiro, não há algo mais alto do que o amor revelado em Jerusalém. “Nada é mais alto do que o abaixamento da Cruz, porque lá se atinge verdadeiramente a altura do amor! ”.
Em vista das incompreensões existentes, Jesus explica aos seus discípulos em que consiste o seu messianismo. Faz o primeiro anúncio da sua paixão e morte. O seu messianismo não é triunfalista, contém a marca do conflito com os poderes que o levará à morte: o poder econômico, representado pelos anciãos; o poder religioso e político, representado pelos sacerdotes; e o poder do conhecimento, representado pelos doutores da Lei, considerados “mestres da verdade”. Os ideais defendidos por Jesus contrastam com os interesses destes três segmentos, que compõem o Sinédrio, tribunal que condenará Jesus à pena capital.
Aos que afirmam que Jesus é o messias, são apresentadas três condições para o seu seguimento: renunciar a si mesmo, tomar a sua cruz, e segui-lo. Negar-se a si mesmo é reconhecer o absoluto de Deus; é reconhecer que Jesus é o fundamento do pensar e do agir; é deixar de ser o centro e colocar como mais importante a pessoa de Jesus Cristo e o seu projeto. Renunciar a si mesmo não é anular-se como pessoa, mas despojar-se das ambições pessoais, é vencer o egoísmo. Tomar a cruz é assumir as consequências do abraçar o projeto de Jesus Cristo, que contrariava alguns grupos por priorizar os mais pobres, os mais sofridos, os pecadores, os doentes, os rejeitados. Que contestava uma sociedade estabelecida em classes, com a marca do preconceito e desrespeito pelos mais sofridos. Para o papa Francisco, a fé sempre conserva algo de cruz, certa incerteza que não retira a firmeza à sua adesão (Cf. Evangelii Gaudium n. 42). Para alguns cristãos, é constrangedora a cruz de Cristo. Como advertia São Paulo aos Filipenses, também hoje há muitos inimigos da cruz de Cristo (Cf. Fl 3,18). Ainda conforme o papa Francisco, “o triunfo do cristão é sempre uma cruz, mas cruz que é, simultaneamente, estandarte de vitória, que se empunha com ternura batalhadora contra as investidas do mal” (Evangelii Gaudium n. 85). Seguir Jesus é trilhar o caminho que Ele trilhou, com as opções que Ele assumiu, e também com as consequências das suas opções. É dispor-se a ir com Ele até à morte e morte de cruz, para também com Ele ressuscitar e triunfar.
Pedro não entende o anúncio da paixão, era difícil aceitar um Messias que iria ser condenado à morte. Chamado pedra de construção da Igreja no Evangelho de domingo passado (cf. Mt 16,18), Pedro agora é advertido como tentador, como pedra de tropeço, que não pensa como Deus, mas como os homens (v. 23). Ele está condicionado pela lógica humana do poder, do triunfo, da vitória pela força. Mas para Jesus, o sentido da vida está em doar-se até a morte e morte de cruz. A felicidade é alcançada na doação da vida aqui, que se plenificará na eternidade (cf. v. 26).
Mateus explora os verbos salvar / perder; perder / encontrar; ganhar / perder; dar / retribuir. O que as pessoas entendem por ganhar a vida ou perdê-la destoa do entendimento de Jesus. Para Ele, quem pensa em ganhar a vida acumulando bens vai perdê-la (v. 26); e quem a “perde”, isto é, quem a doa por amor a Ele e aos irmãos vai encontrá-la (v. 25), receberá a retribuição divina, será recompensado. Jesus sempre esteve do lado dos derrotados, dos humilhados, até o seu último suspiro. Mesmo colocando-se do lado dos vencidos e não dos vencedores, triunfou, venceu a morte, ressuscitou, como sinaliza no início deste Evangelho (v. 21). Os discípulos devem seguir o exemplo do Mestre, devem estar ao lado dos últimos, daqueles que não contam, dos que são vistos como derrotados. Assim, como Jesus, alcançarão a vitória. Repetindo o que disse o papa Francisco, “o triunfo do cristão é sempre uma cruz, mas cruz que é, simultaneamente, estandarte de vitória, que se empunha com ternura batalhadora contra as investidas do mal” (Evangelii Gaudium n. 85).
+Dom Jeová Elias
Bispo Diocesano