Iniciamos no dia 1º de dezembro de 2024, o tempo do Advento, um novo ciclo litúrgico, que se estenderá durante as próximas quatro semanas. A palavra “Advento” significa “vinda”, “chegada”. É um período especial, tempo encantador e de alegre expectativa, em que nos preparamos para a vinda de Jesus, Deus que se faz homem e entra na nossa história para devolver a dignidade de cada ser humano desrespeitado.
Especialmente durante o tempo do Advento, preparamo-nos para acolher Jesus: aquele que veio e entrou na nossa história, que vem diariamente ao nosso encontro na pessoa do irmão e nos sacramentos que celebramos, e que virá para o encontro definitivo conosco. Ele veio para manifestar a misericórdia do Pai, trazendo uma mensagem de paz inquieta e promovendo a vida para todos e todas. A nossa preparação não se limita simplesmente a celebrar o aniversário de uma figura ilustre, mas a vivenciar o fato inédito na história: Deus que se faz homem, vem morar conosco para sempre e dar sentido pleno à nossa vida. No Natal recordaremos, isto é, traremos ao coração essa verdade, que é motivo de profunda alegria!
O Advento também nos ajuda a abrir os nossos olhos e o nosso coração para acolher Jesus Cristo, que sempre vem ao nosso encontro em cada ser humano, especialmente naqueles marcados pelas adversidades da vida. Nesse caso, não podemos apenas esperar, mas ir ao encontro deles nas periferias geográficas, onde existe miséria social, injustiça e discriminação, e nas periferias existenciais, onde há dor e sofrimento, tocando a carne sofrida de Jesus nos que padecem, como nos lembra o papa Francisco (cf. Evangelii Gaudium n. 270). Além disso, o Advento nos convida a acolher a Jesus nos sacramentos que celebramos, na Palavra que escutamos e nos sinais dos tempos que vivenciamos.
Por fim, o Advento nos convida a preparar o coração para o encontro definitivo com o Senhor, que não sabemos quando ocorrerá, mas cada um de nós terá esse encontro. Esperamos que seja um encontro bonito, preparado com amor ao longo da nossa caminhada.
A liturgia do tempo do Advento divide-se em dois períodos: até o dia 16 de dezembro, destacando a preparação para o encontro definitivo com Jesus; e, de 17 a 24 de dezembro, com a preparação mais direta para a celebração do Natal. Neste segundo período, destaca-se a figura de Maria, em quem o verbo de Deus se faz carne.
O Evangelho deste domingo, de estilo literário apocalíptico, precisa ser entendido na sua singularidade, pois pode parecer assustador à primeira vista. Esse gênero utiliza imagens cósmicas e outros símbolos que os cristãos compreendiam. Lucas menciona os sinais no sol, na lua e nas estrelas, além do sentimento de pavor provocado pelo barulho do mar e das ondas. Ele afirma que as forças do céu serão abaladas e que os homens vão desmaiar de medo ao pensar no que irá acontecer (vv. 25 e 26). No entanto, essa descrição refere-se à destruição da cidade de Jerusalém, ocorrida no ano 70 e não a acontecimentos futuros. O texto anuncia a vinda do Filho do Homem sobre as nuvens (v. 27). Os acontecimentos descritos são pavorosos para os que rejeitaram o projeto de Deus, para os quais o Filho do Homem é juiz, mas são sinais de salvação para os que permaneceram fiéis, que não ficaram inebriados no próprio egoísmo e passividade. A destruição de Jerusalém, embora trágica, não representa a extinção dos cristãos.
O Advento é tempo de esperança! Esperança não é omissão, indiferença ou resignação diante das injustiças, mas algo positivo, que nos anima, nos impulsiona para o futuro e nos fortalece para seguir em frente, mesmo quando o momento presente é desafiador. A esperança é uma virtude que Deus infunde em nossos corações. Ela dá sentido à nossa vida e nos ajuda a caminhar. Por isso, renovemos a esperança! Recuperemos o olhar contemplativo e cultivemos a sensibilidade para escutar o Senhor que nos fala de tantas formas, e para reconhecer Sua presença na nossa caminhada, que muitas vezes passa despercebida.
O papa Francisco, no livro “Vamos Sonhar Juntos”, escrito durante o tempo da pandemia, nos convida a tomar consciência da realidade que nos circunda e dos desafios que precisamos enfrentar, mas sem medo, com coragem e confiança na graça divina, que nunca nos falta. Ele convoca-nos a renovar a esperança, destacando a importância de sonhar. Não matemos os nossos sonhos. Sonhemos juntos, para que nossos sonhos não sejam apenas ilusões e trabalhemos para transformar os nossos sonhos em realidade.
Uma forma bonita de viver o tempo do Advento, de preparação pessoal e comunitária para acolher Jesus, é participando da Novena de Natal em família e comunidade, iluminando e confrontando a nossa realidade com a Palavra de Deus. Desejo que esse tempo litúrgico nos ajude a intensificar a vida de oração, especialmente na Eucaristia e, se necessário, a buscar a misericórdia divina no sacramento da reconciliação.
Com o poema “Esperança”, escrito durante a pandemia por Alexis Valdés, que o papa Francisco escolheu para encerrar o livro “Vamos Sonhar Juntos”, concluo essa reflexão, desejando que cada pessoa seja renovada pela esperança e siga sua caminhada com fé e amor, rumo a um futuro melhor:
“Quando a tempestade tiver passado/e as estradas estiverem amansadas/ e nós formos sobreviventes/de um naufrágio coletivo.
Com o coração em lágrimas/e o destino abençoado/ nos sentiremos felizes/simplesmente por estarmos vivos.
E daremos um abraço/ao primeiro desconhecido/e louvaremos a sorte/de conservar um amigo.
E então recordaremos/tudo aquilo que perdemos/e de uma vez aprenderemos/tudo o que não aprendemos.
Já não teremos inveja/pois todos terão sofrido/ já não teremos apatia/ seremos mais compassivos.
Valerá mais o que é de todos/que o jamais conseguido./Seremos mais generosos/e muito mais comprometidos.
Entenderemos o frágil/ que significa estar vivos./Suaremos empatia/por quem está e por quem partiu.
Sentiremos falta do velho/que pedia uma moeda no mercado,/de quem não soubemos o nome/e sempre esteve ao nosso lado.
E talvez o velho pobre/fosse o seu Deus disfarçado./Nunca lhe perguntara o nome/porque estava apressado.
E tudo será um milagre/e tudo será um legado/e se respeitará a vida,/a vida que ganhamos.
Quando a tormenta passar/peço-lhe, Deus, envergonhado,/que nos retorne melhores,/como nos tinha sonhado!” (Vamos Sonhar Juntos, p. 149-150).