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A fé autêntica não se alimenta do medo do juízo, mas do amor

Estamos nos aproximando do final do ano litúrgico. Neste penúltimo domingo, a liturgia orienta o nosso olhar para o encontro definitivo com Jesus. O texto do Evangelho deste 33º domingo do Tempo Comum, do capítulo 13 de São Marcos, é conhecido como “apocalipse de Marcos”.  Esse estilo literário, já presente no primeiro testamento, e amplamente aplicado no livro do Apocalipse, apresenta a realidade vivida e a expectativa do futuro por meio de símbolos e imagens cósmicas. Também resgata fatos acontecidos no passado, interpretando-os à luz da fé cristã do segundo testamento. A palavra “apocalipse” provém da língua grega e significa “revelação”, ou seja, retirar o véu para mostrar o que estava encoberto. As comunidades cristãs primitivas não entendiam o porquê de muitos acontecimentos, mas entendiam a linguagem simbólica utilizada para explicá-los. A compreensão dos fatos trazia encorajamento para enfrentar as provações e perseverar na caminhada de fé.

O Evangelho deste domingo recorre a muitos elementos simbólicos, especialmente imagens cósmicas, que parecem assustadoras: o sol que escurecerá, a lua que deixará de brilhar, as estrelas que cairão do céu, as forças celestes que serão abaladas, as nuvens. Não são, no entanto, textos de destruição, mas de esperança, que se expressa em duas imagens: a da figueira, onde brotam as folhas e os ramos verdes, e a presença do Filho do Homem vitorioso sobre as nuvens, trazendo a salvação (vv. 28-29). Marcos nos apresenta uma catequese sobre o final dos tempos sob uma perspectiva de esperança para aqueles que foram fiéis ao projeto de Jesus.

A nossa fé cristã tem suas raízes em um Deus que se faz carne, desce do céu e vem morar conosco, por isso a história tem grande valor. Os sinais dos tempos, os fatos históricos, o universo com todos os astros, estrelas, planetas, espaço, tempo, tudo fala de Deus. Como tudo tende a um fim e não temos a certeza de como ocorrerá, surge em muitas pessoas o medo do futuro e, como consequência, sua rejeição; a negação do presente e o apego ao passado, mas esquecendo determinados acontecimentos. Alguns grupos cristãos, infelizmente, nos assombram com a frase: “Jesus Cristo está voltando”, quase como um ultimato de juízo final. Isto pode causar pânico em alguns e desvirtua a mensagem de esperança trazida por Jesus. Ao falar da sua segunda vinda, o Evangelho nos encoraja a estarmos de prontidão fazendo o bem. Essas ameaças de condenação não condizem com a misericórdia divina e não ajudam as pessoas a terem uma relação de amor com Deus, mas de temor quanto ao seu julgamento. A fé autêntica não se alimenta do medo do juízo, mas do amor. Ela é movida pela esperança. Para quem ama, o encontro definitivo com o Senhor será marcado pela alegria. Ele mesmo irá servir o banquete da vitória aos que forem encontrados fazendo o bem (cf. Lc 12, 37).

O papa João XXIII, no discurso de abertura do Concílio Vaticano II, advertia quem via somente desgraças nos novos sinais dos tempos. Ele dizia que ferem os nossos ouvidos as palavras de pessoas, mesmo ardorosas, que veem no tempo presente ruínas e catástrofes. Que julgam a época atual pior do que o passado e comportam-se como se nada tivessem aprendido da história, que é mestra da vida. O papa discorda desses que ele chama “profetas da desventura”, que anunciam acontecimentos ruins, como se o mundo já estivesse acabando (cf. https://www.vatican.va/content/john-xxiii/pt/speeches/1962/documents/hf_j-xxiii_spe_19621011_opening-council.html).

Destaco três ensinamentos importantes no Evangelho deste domingo:

Primeiro: não sabemos quando o mundo se acabará, quando Jesus retornará para julgar os vivos e os mortos! Havia, em alguns cristãos da comunidade primitiva, uma expectativa quanto à vinda próxima de Jesus, mas Ele diz que ninguém sabe a hora e nem o dia, somente o Pai (v. 32). Certamente, o mundo acabará, pois não é eterno e nem infinito: passou a existir num determinado momento da história e terá fim um dia. No entanto, desconhecemos quando isso ocorrerá. De acordo com alguns cientistas, a terra ainda existirá durante milhares de anos, a menos que o ser humano apresse esse fim, com sua busca desenfreada por lucro, destruindo a natureza;

Segundo: precisamos aprender a ler os sinais dos tempos. Isso significa ver os fatos à luz da fé, com os olhos de Jesus, movidos pela esperança. Não ficarmos indiferentes diante dos acontecimentos desagradáveis, nem desanimarmos no empenho por transformação;

Terceiro: deveremos estar de prontidão, atentos e vigilantes, sempre amando e fazendo o bem, para não sermos surpreendidos na vinda definitiva de Jesus. Ele virá ao encontro de cada um de nós, com certeza, mais cedo ou mais tarde. Devemos estar atentos, vivendo intensamente cada instante da nossa vida, não desperdiçando as oportunidades para fazer o bem, para amar.

Neste penúltimo domingo do Ano Litúrgico, celebramos o VIII Dia Mundial dos Pobres, instituído pelo papa Francisco, em 2016, no encerramento do Ano da Misericórdia, como demonstração da sua sensibilidade diante da dor e do sofrimento dos mais fragilizados, e da sua opção evangélica por eles. Esse dia é uma oportunidade pastoral para escutar o clamor dos pobres que se eleva a Deus, e igualmente deve chegar aos nossos ouvidos e comover o nosso coração para a presença deles entre nós e das suas necessidades básicas. É ocasião para a realização de atividades que ajudem concretamente os pobres, “e também para reconhecer e apoiar os numerosos voluntários que se dedicam com paixão aos mais necessitados.

Na sua mensagem para este ano, com o tema: “Ouve o meu clamor” e o lema: “A oração do pobre eleva-se até Deus” (Eclo 21,5) o papa Francisco diz que Deus, por ser um Pai atento e carinhoso para com todos, conhece os sofrimentos dos seus filhos. “Como Pai, preocupa-se com aqueles que mais precisam dele: os pobres, os marginalizados, os que sofrem, os esquecidos… Ninguém está excluído do seu coração, uma vez que, diante d’Ele, todos somos pobres e necessitados. Somos todos mendigos, pois sem Deus não seríamos nada”.  Conforme Francisco, numa cultura que prioriza a riqueza e sacrifica a dignidade das pessoas no altar dos bens materiais, os pobres, embora remando contra a corrente, têm muito para ensinar, tornando claro que o essencial da vida é outra coisa. A oração, para ser autêntica, deve levar à caridade, pois a fé sem obras é morta (cf. Tg 2,6). Contudo, sem a oração, a caridade se esgota.

Mantenhamos viva a esperança! Quando o sol, a lua e as estrelas deixarem de brilhar, e a escuridão terrível, descrita no Evangelho de hoje, parecer dominar, uma nova luz resplandecerá: a luz do Filho do Homem que surge nas nuvens, triunfante, para reunir seu povo na vitória final. Nas noites mais sombrias, nunca percamos a esperança!  Elas são uma oportunidade para que brilhe fortemente a luz que brota da nossa fé em Jesus Cristo!

 

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