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A Ascensão do Senhor já é nossa vitória

Neste domingo, celebramos com alegria a Solenidade da Ascensão do Senhor, mistério que marca o retorno glorioso de Jesus ao seio do Pai depois de cumprir sua missão na terra. Conforme os Atos dos Apóstolos, esse fato ocorreu quarenta dias após a Páscoa (cf. At 1,3-5), tempo em que o ressuscitado permaneceu instruindo e fortalecendo a fé dos seus discípulos (cf. At 1,3). Já o Evangelho de Lucas sugere que esse retorno ocorreu no próprio dia da ressurreição (cf. Lc 24,50-53). O que importa é compreender o seu sentido profundo para a nossa fé, mais do que as datas.

Aquele, que um dia desceu do céu e assumiu a nossa condição humana, agora retorna gloriosamente ao Pai, levando consigo e dignificando a nossa humanidade. Como rezamos no Prefácio da Missa deste dia, “Ele, nossa cabeça e princípio, subiu aos céus, não para afastar-se de nossa humildade, mas para dar a nós, membros do seu corpo, a confiança de um dia o seguirmos” (Prefácio da Ascensão do Senhor, I). Contudo, Jesus não nos deixa órfãos: permanece conosco na Igreja, povo de Deus, nos seus discípulos missionários, que continuam sua obra, nos pobres e sofredores com os quais se identificou, nos sacramentos que celebramos, manifestando a sua misericórdia de modo perene. Ele foi à nossa frente para preparar um lugar na casa do Pai, a fim de que estejamos onde Ele estiver (cf. Jo 14,3).

A ascensão do Senhor mostra a sublime dignidade da natureza humana. O ser humano, ferido pelo pecado e expulso do paraíso, em Jesus Cristo, é reabilitado. O céu, que se fechara pela desobediência do primeiro Adão, reabre-se pela fidelidade do novo Adão, que se fez “obediente até a morte e morte de cruz” (cf. Fl 2,8). Nele, nossa dignidade é restituída e vencedora. O nosso corpo não é uma prisão da alma, como pensavam alguns filósofos gregos antigos, mas templo do Espírito Santo e está destinado à ressurreição gloriosa, merece respeito. Por isso, toda violência contra a pessoa humana fere o próprio corpo de Jesus, que agora participa da glória divina.  A ascensão de Jesus é também a nossa vitória e incentivo a lutarmos contra todo desrespeito à dignidade de cada ser humano.

O texto desta solenidade é a conclusão do Evangelho de Lucas, que inicia o seu escrito no templo de Jerusalém com o sacerdote Zacarias (cf. Lc 1,9), e o conclui no mesmo lugar com a presença dos apóstolos bendizendo a Deus sem cessar (cf. Lc 24,53). São Lucas mostra o anúncio do querigma, aquilo que é essencial na mensagem cristã: a paixão e a ressurreição de Jesus Cristo (v. 46). No nome dele serão anunciados a conversão e o perdão dos pecados. Esse anúncio dirige-se a todas as pessoas, de todos os tempos. Contudo, não é simples propaganda, mas um convite a romper todas as formas de injustiça que promovem morte e abraçar a vida nova oferecida pelo ressuscitado. Para isso, Jesus promete enviar o Espírito Santo, força do alto que possibilita ser suas testemunhas no mundo (cf. Lc 24,49; At 1,8).

O último gesto de Jesus no Evangelho de Lucas é significativo: Ele ergueu as mãos para abençoar a comunidade dos seus seguidores (v. 50). Antes de retornar ao Pai, Jesus nos deixa abençoados. Como bem explica o Pe. Pagola, abençoar é desejar o bem das pessoas que são encontradas ao longo do caminho, de maneira incondicional e sem reservas. É desejar que tenham saúde, bem-estar, alegria… tudo o que for necessário para que vivam bem e sejam felizes. Quem segue Jesus deve ser sinal de sua bênção, não deve condenar, odiar e amaldiçoar as pessoas. Os discípulos de Jesus devem ser portadores da sua bênção para os outros (cf. O Caminho Aberto por Jesus – Lucas, p. 375).

Neste domingo, celebramos o Dia Mundial das Comunicações Sociais. A mensagem deixada pelo papa Francisco para este dia está em sintonia com o lema do Jubileu: “Partilhai com mansidão a esperança que está nos vossos corações” (cf. 1 Pd 3,15-16). O papa convida, especialmente os jornalistas, a terem coragem de colocar no centro da comunicação a responsabilidade coletiva e pessoal com o próximo, tornando-nos comunicadores da esperança cristã, inspirados na Boa-Nova, o Evangelho, em um mundo marcado por polarizações e desinformação.

Francisco afirma que, hoje, “com demasiada frequência, a comunicação não gera esperança, mas sim medo e desespero, preconceitos e rancores, fanatismo e até ódio. Muitas vezes, simplifica a realidade para suscitar reações instintivas; usa a palavra como uma espada; recorre mesmo a informações falsas ou habilmente distorcidas para enviar mensagens destinadas a exaltar os ânimos, a provocar e a ferir”. Ele recorda que já insistiu várias vezes na necessidade de “desarmar” a comunicação, purificando-a da agressividade. O papa adverte que o resultado da comunicação agressiva nas redes sociais e demais meios de comunicação nunca é positivo, pois põe em risco a verdade e favorece a manipulação da opinião pública.

Francisco disse sonhar com uma comunicação que nos torne companheiros de viagem de tantos irmãos e irmãs, nesses tempos conturbados, reacendendo neles a esperança, como Jesus fez com os discípulos de Emaús. Uma comunicação que faça arder o coração e suscite amizade, não raiva ou ódio, e que nos ajude a “reconhecer a dignidade de cada ser humano e a cuidar juntos da nossa casa comum”.

Meu querido irmão, minha querida irmã, ao retornar ao Pai, Jesus nos confia a responsabilidade de testemunhar sua ressurreição e ser sinais de sua bênção, mensageiros da paz. Reflitamos ao longo desta semana: tenho sido um sinal da bênção de Deus aos outros? Com minhas palavras e ações, comunico a esperança ou alimento divisões? Uso as mídias sociais para promover a paz, ou para dividir e gerar ódio? Tenho consciência da dignidade de cada pessoa e me empenho em defendê-la?

Que a celebração da Solenidade da Ascensão do Senhor nos motive a elevar os olhos ao céu, e nos encoraje a caminhar com os pés firmes na terra, sendo anunciadores do amor, da paz e da justiça que transforma vidas!

+ Jeová Elias Ferreira Bispo de Goiás

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